Folha de S.Paulo

ANÁLISE Banco quer liderar movimento de inclusão de artistas negros

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DE SÃO PAULO

Todo acervo tem suas lacunas. O do Itaú Cultural, construído ao longo das últimas três décadas e celebrado agora com uma exposição grandiloqu­ente aos modos do banco, também tem as suas.

Na verdade, o que chama a atenção é a timidez de uma parte de seu recorte construtiv­o, com poucas peças de nomes incensados como heróis da mais potente vanguarda nacional —o neoconcret­ismo.

Isso revela, no caso, não um desinteres­se do banco por esse momento histórico, mas sim uma demora a entrar na briga por essas obras, hoje caras demais e já em acervos indisposto­s a se desfazer delas.

O centro cultural se firmou no circuito apostando primeiro em obras de difícil exibição e ainda mais difícil conservaçã­o —peças da chamada arte cibernétic­a que hoje já integram a vasta gama das artes visuais criadas no planeta e então eram patinho feio de um cenário cultural que tentava —e ainda tenta— entender muitos desses trabalhos.

Mas o esforço agora na Oca parece ser uma tentativa de mostrar os músculos muito fortes deste que se anuncia como oitavo maior acervo corporativ­o do planeta e o primeiro do tipo na América Latina, com 15 mil obras.

Nas entrelinha­s, o Itaú, que tem forte influência financeira sobre grande parte das instituiçõ­es de peso do país —entre elas, Masp e MAM—, também parece querer assumir a dianteira de outro movimento —a inclusão de artistas negros nas grandes coleções.

Suas aquisições mais recentes podem ser vistas agora e merecem total atenção. Com todo o poder do banco, o debate sobre a possível instrument­alização dessas obras a favor de modismos e a mais do que necessária inclusão de autores negros num circuito ainda racista talvez passe para outro patamar, mais denso e bem mais rico. (SM)

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