Folha de S.Paulo

Com certeza, uma grade que os consumidor­es

-

A Netflix, hoje em cerca de 200 países e atraindo concorrent­es como Globo e Amazon, fez um levantamen­to para identifica­r a grade de programaçã­o de seus usuários —e no que ela se diferencia e se aproxima do que se vê na TV há mais de meio século.

Os dados apontam para um impacto nos hábitos muito além do “binge” (ver uma série sem parar). Em entrevista, Anne Trench, diretora de consumo global da Netflix, diz que várias caracterís­ticas da nova grade são globais.

Por exemplo, ao acordar, o que se vê é série cômica, não noticiário, como na chamada TV linear (aberta e paga). E à noite o horário nobre começa às 21h, após preparar o jantar e pôr as crianças na cama. Folha - Já existe uma nova grade estabeleci­da, por exemplo, com comédia pela manhã e conteúdo mais sério à noite?

Anne Trench - criaram. Quando demos a eles o poder de escolher o que e quando ver, eles fizeram as coisas de maneira diferente do que você vê na TV linear. Uma é comédia em vez de manchetes pela manhã. Eles querem começar o dia com programaçã­o mais engraçada. E no meio da noite encontramo­s uma audiência mais ativa do que seria de esperar, se nos baseássemo­s no que a TV apresenta. Não é mais assistir de modo desatento, mas conteúdo que demanda atenção, coisas como documentár­ios ou, no caso do Brasil, thrillers. Mas isso ainda pode mudar.

Sim, as coisas vão mudar quando eles quiserem. Nós certamente esperamos que o comportame­nto mude com o tempo. O melhor é que está nas mãos deles alterar seus hábitos. Não temos que reprograma­r nossa grade conforme mudarem os estilos de vida. A grade se replica ao redor do mundo. O que isso significa? Uma verdadeira aldeia global?

Muitos dos comportame­ntos são similares no mundo todo, caso da comédia pelas manhãs e dos documentár­ios no meio da noite. Também o drama durante o dia, mais ou menos na hora do almoço, mantendo ativo seu “binge”. Não foi surpresa, porque nos últimos anos já víamos que os espectador­es são parecidos. Daí lançarmos nossos programas Mas há diferenças.

Sempre há diferenças interessan­tes por país. O Brasil é o líder mundial na hora do almoço. Faz sentido, quando você olha certos comportame­ntos culturais, mas não era o que esperávamo­s, necessaria­mente. Existe, portanto, esse equilíbrio entre as similarida­des globais, porque somos humanos e muitas das coisas que nos levam a rir ou a ter medo são as mesmas, e as especifici­dades locais, de culturas com diferentes preferênci­as e seus próprios rituais. O Brasil tem sido laboratóri­o para a Netflix há cinco anos. Quais são as suas caracterís­ticas mais significat­ivas? Por que os brasileiro­s ficam vendo séries até três da manhã?

[Ri.] Bem, responda você, que mora no Brasil. Eu diria que os brasileiro­s amam seu entretenim­ento. É uma população socialment­e muito engajada, ou seja, para nós significa que vocês não conseguem parar de ver um programa que estejam amando. Querem ver o que acontece na sequência para, quando forem trabalhar ou estudar, serem parte da conversa. Notamos Como a nova grade espelha a anterior, da TV? Com drama no meio do dia, a exemplo de “soap operas” e telenovela­s?

Novelas, tanto nos Estados Unidos como na América Latina, sempre foram uma parte importante da audiência durante o dia. Uma diferença agora é que as pessoas estão seguindo em “binge”, no meio do dia, as séries que começaram a ver no horário nobre. E telenovela­s e “soap operas” de dia tendem a ser diferentes dessa programaçã­o noturna.

Outro comportame­nto bem similar é gente vendo ação, drama e thriller às 21h, só uma hora mais tarde do que no horário nobre da TV linear. Mas, novamente, isso pode ser importante na vida das pessoas. Pode significar ter tempo para pôr as crianças para dormir ou fazer jantar sem ter que correr para chegar na frente da TV.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil