Folha de S.Paulo

Até hoje autoexilad­o.

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DE BUENOS AIRES

Rafael Correa, 54, permaneceu fiel a seu estilo centraliza­dor e autoritári­o até os últimos dias de seu governo.

Em seu programa semanal de TV, no último sábado, rasgou, como já havia feito antes, um exemplar de jornal e criticou a imprensa, contra a qual promoveu uma cruzada ao longo de seu governo, processand­o meios e jornalista­s e criando uma legislação para controlar a atividade.

Nas últimas semanas, a mais recente vítima do mandatário foi o jornalista Luis Eduardo Vivanco, do diário “La Hora”, que está sendo processado, a pedido da Superinten­dência de Comunicaçã­o, por um tuíte em que fazia alusão à relação entre o narcotráfi­co e o financiame­nto de campanhas do governo.

“É algo insólito processar um jornalista não por uma matéria, mas por um comentário nas redes sociais. Interpreto como um aviso de Correa de que continuará ativo contra as críticas a ele e, talvez, ao próximo governo”, afirmou Vivanco à Folha por telefone.

Ainda assim, segundo Vivanco, os jornalista­s equatorian­os estão esperanços­os.

“Pelo menos o benefício da dúvida, uma trégua, nós daremos a Moreno, porque ele prometeu amenizar a pressão sobre os meios de comunicaçã­o e promover o diálogo. Vamos esperar que isso aconteça, mas de forma vigilante.”

Além de Vivanco, nos últimos anos foram alvo de processos os diretores do jornal “El Universo”, o principal do país; o cartunista Bonil, multado e obrigado a corrigir charges; e editoriali­stas como Emilio Palacio, que está PONTOS POSITIVOS Se o estilo centraliza­dor e a pressão contra a imprensa foram os pontos negativos de Correa, entre os positivos pode-se listar a redução da pobreza de 40%, em 2006, para 23%, no ano passado e uma queda nos índices de desemprego para 5,5% em 2016.

A alta no preço dos produtos básicos (commoditie­s) ajudou também a ampliar gastos em educação, saúde e infraestru­tura. Correa investiu em novas estradas e aeroportos, entre outras coisas.

O presidente também é elogiado por seus apoiadores por ter trazido ao Equador algo de estabilida­de política a um país que, nos 11 anos anteriores à sua chegada ao poder, tinha tido nada menos que oito presidente­s.

O plano imediato de Correa é mudar-se para a Bélgica, onde nasceu sua mulher, Anne Malherbe, com quem está casado há mais de 20 anos. Dois de seus três filhos já vivem na Europa.

“Mas para isso vocês têm de se comportar aqui, senão eu volto para as próximas eleições”, tem dito o mandatário desde a campanha.

No ato final de seu governo, na última segunda-feira (21), Correa apareceu nos balcões do Palácio de Carondelet para assistir a um evento militar. Foi recebido com gritos de apoiadores: “Hasta siempre, presidente” (até sempre, presidente) e cartazes de agradecime­nto.

Correa deixa o cargo com 42% de aprovação. O nível é alto para a média da região, mas baixo para seus parâmetros. Em épocas de vacas gordas, chegou a ter 65% de imagem positiva. (SC)

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