GOVERNO ENCURRALADO Temer faz aceno ao Congresso em busca de sobrevida política
Presidente fez seu terceiro pronunciamento público desde a eclosão da crise
Assessores do Planalto dizem que processo de cassação no TSE pode ser protelado com pedido de vista
O presidente Michel Temer quer se aproveitar da falta de consenso em torno de sua sucessão para negociar com aliados uma sobrevida ao governo, com o discurso de que ainda tem condições de finalizar as reformas econômicas no Congresso.
Com essa estratégia em curso, Temer fez nesta quinta-feira (25) seu terceiro pronunciamento público desde o início da crise provocada pela delação da JBS.
Na fala, divulgada nas redes sociais, o presidente fez um esforço para mostrar que conseguiu aprovar uma pauta legislativa robusta, apesar da turbulência política.
“Continuamos avançando e votando matérias importantíssimas” , disse Temer. “De- putados e senadores continuaram a trabalhar em favor do Brasil e aprovaram número expressivo de medidas provisórias, sete em uma semana. E a reforma trabalhista [avançou] no Senado.”
O peemedebista agradeceu à base aliada e disse que ainda há “muito a fazer”.
Nos últimos dias, segundo a Folha apurou, auxiliares de Temer abriram diálogo com os principais articuladores de eleições indiretas, que seriam convocadas caso o presidente seja cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A proposta é pela manutenção de Temer no cargo condicionada à aprovação das reformas e à retirada do peemedebista da cena política na disputa de 2018.
A avaliação é de que os movimentos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), José Sarney (PMDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não estão “maduros” e que não haverá, nesses grupos, um acordo que permita a construção de um nome comum para suceder Temer. É nessa falta de entendimento que o Planalto aposta para ganhar tempo.
Desde a semana passada, quando foram divulgados os detalhes da delação da JBS que implicam Temer, partidos da base aliada e da oposição começaram a articular a substituição do presidente por eleições indiretas. Eles entendem que a crise é incontornável.
Sem capital político, o governo oferece agora a aliados, em especial o PSDB, a opção de ele próprio fazer uma “transição responsável”, entregar a pauta de ajustes e permitir que esse grupo dispute 2018 sem a necessidade de implantar medidas consideradas impopulares.
Temer, por sua vez, já sabe que, com baixíssima aprovação e sob investigação no STF (Supremo Tribunal Federal) por corrupção, obstrução de justiça e organização criminosa, ele e o PMDB não terão condições de influenciar as eleições de 2018.
Nesse cenário, aliados admitem até que o PSDB adote gradualmente uma postura de “independência” no ano final da gestão do peemedebista, desde que continuem entregando votos para avançar a agenda econômica.
Auxiliares próximos a Te- mer têm conversado diariamente com os principais articuladores da possível sucessão do presidente via eleição indireta: Sarney, FHC, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) –os três últimos, inclusive, despontam como opções para assumir o Planalto.
Nas conversas, insistem que Temer não vai renunciar e que na Câmara há votos suficientes para barrar qualquer pedido de impeachment.
Quem articula o pós-Temer dá como certa a cassação do peemedebista pelo TSE no julgamento cujo início está marcado para 6 de junho.
O Planalto, por sua vez, diz que pode protelar o processo com o pedido de vista de um dos ministros indicados por Temer à corte: Admar Gonzaga ou Tarcísio Vieira.
Além disso, a equipe do presidente trabalha com uma série de recursos que podem ser apresentados no próprio TSE e no STF caso a defesa seja derrotada. O presidente permaneceria no cargo até uma decisão final da Justiça. O objetivo é ganhar tempo para tentar resistir à crise.