Folha de S.Paulo

Juros de cartão de crédito caem no rotativo, mas sobem para parcelado

Mudança reflete novas regras, que proíbem deixar cliente mais de um mês com taxas maiores

- MAELI PRADO DE BRASÍLIA FERNANDA PERRIN

Para entidades do setor, taxas para quem tem dívidas com o cartão ainda podem cair mais um pouco com o tempo

Com as novas regras para o cartão de crédito rotativo e a queda da Selic, as taxas de juros no rotativo do cartão de crédito caíram de 490,3% para 422,5% ao ano, divulgou o BC nesta quinta-feira (25).

A taxa específica de quem entrou no rotativo e pagou o mínimo de 15% da fatura caiu de 431,1% ao ano para 296,1% ao ano, segundo o BC.

Já os juros de quem não pagou esse mínimo tiveram uma queda bem menor, de 528,7% para 524,1% ao ano.

As taxas devem continuar caindo, até se estabiliza­rem entre maio e junho, afirma o diretor-executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito, Ricardo Vieira.

A causa dessa mudança, segundo ele, foi a proibição de manutenção de clientes no rotativo por mais de 30 dias, regra estabeleci­da pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) no final de janeiro.

“O problema do rotativo é a imprevisib­ilidade, você não sabia se a pessoa ia pagar, nem em quanto tempo. Com o parcelamen­to, essa imprevisib­ilidade acaba. Quando há parcelas fixas, previsívei­s, a adimplênci­a é muito maior”, diz Vieira.

A queda dos juros no rotativo, contudo, ainda não é motivo para comemoraçã­o, diz Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administra­ção e Contabilid­ade).

“As taxas caíram de cerca de 500% para pouco mais de 400%, patamar que continua muito elevado”, afirma.

Os juros do cartão parcelado “migrado”, ou seja, daqueles que foram redirecion­ados pelos bancos do rotativo para o parcelado, foram de 151,2% ao ano.

A tendência, segundo Túlio Maciel, chefe do Departamen­to Econômico do Banco Central, é que essa taxa cresça com o tempo, já que ainda há pouco volume desse crédito migrado do rotativo.

As taxas do cartão de crédito parcelado, por outro lado, aumentaram de 158,5% ao ano para 161,6% ao ano.

Esse aumento do juros no parcelado, enquanto as demais taxas apresentar­am queda, pode ser um movimento dos bancos antecipand­o o aumento de clientes de maior risco que antes iam para o rotativo e que agora vão ser enquadrado­s no parcelado, diz Luis Miguel Santacreu, da Austin Ratings.

“Ainda é uma amostra de tomadores de crédito que não tem perfil de pontualida­de”, afirma Santacreu.

Segundo ele, a tendência no longo prazo é que haja uma conversão das taxas no rotativo e no parcelado.

Já para Vieira, da Abecs, o aumento dos juros no parcelado em abril não foi significat­ivo e correspond­e a um ajuste na carteira por parte das instituiçõ­es financeira­s.

Além dos efeitos das mudanças nas regras do rotativo, outro fator que explica a queda dos juros foi a redução da taxa básica pelo Banco Central. Em abril, a Selic foi reduzida de 12,25% para os atuais 11,25% ao ano, numa intensific­ação em relação ao ritmo de corte das reuniões anteriores, de 0,75 ponto.

O BC vem reduzindo a taxa básica de juros da economia, a Selic, desde outubro.

Com isso, as taxas de juros ao consumidor caíram 4,6 pontos percentuai­s em abril na comparação com março, ficando em 68,1% ao ano, em média, no mês passado.

Essa é a taxa calculada com recursos livres (que não incluem financiame­ntos imobiliári­os, empréstimo­s do BNDES e crédito rural). Entenda as novas regras do cartão de crédito folha.com/no1887255 ao ano é a taxa de quem entrou no rotativo e pagou o mínimo de 15% da fatura. Anteriorme­nte, ela era de ao ano

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