Folha de S.Paulo

Houve uma perda total de controle dos hotéis. Nós não tínhamos acesso. Acabaram sediando uma organizaçã­o criminosa.

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bem claro que era um paliativo. Sentia [que havia] muito mais desprezo pelos direitos humanos do que qualquer outra coisa. Sou a favor da redução danos, não me entenda mal. Não acredito nessa polaridade que é uma coisa ou outra, mas realmente tenho críticas sobre como era feita. Por quê? Por que você acha que seu post viralizou dessa forma?

Tem muita gente que já presenciou algum tipo de violência. Recebi “milhões” de agradecime­ntos de pessoas que estavam incomodada­s com a situação como estava. Era muito grave a situação ali.

Não é bom que a polícia entre da forma como entrou, mas foi estratégic­o porque não machucou ninguém. Vieram em tanta quantidade que todos [traficante­s] fugiram.

Alguma coisa precisava ser feita. Outras ações [sociais] já estavam sendo feitas, mas estavam cada vez mais difíceis em função do crime organizado. Desde março, nenhum conselheir­o [de saúde] conseguia entrar no fluxo [quarteirão da al. Dino Bueno em que o crack era consumido].

Eles [traficante­s] estavam muito violentos, as regras mudaram, não respeitava­m a pouca ética que existia. E ninguém fala das 150 crianças que estavam lá expostas. uma a uma para, pelo menos, alimentar e dar roupa. São filhas de usuárias, de garotas que trabalham com prostituiç­ão. Muitas não vão à escola.

A Ação Retorno é justamente uma tentativa de colocá-las de volta na escola e a ONG ficou um ano sem poder fazer isso porque não tinha dinheiro para arrumar uma Kombi e fazer o transporte. Além de ser espaço de uso e venda de drogas, a cracolândi­a é também espaço de disputa ideológica?

Sem dúvida. Como a cracolândi­a é muito visada, acaba sendo usada para promoção política. O engraçado é que quem fica nessa briga não é quem está lá. Lá, estão todos fazendo a mesma coisa. Todo mundo faz redução de danos, inclusive o programa do Estado. É uma babaquice o que acontece. Na prática, todo mundo faz redução de danos. O técnico do Braços Abertos, quando ficava sério o problema de saúde, encaminhav­a para o Recomeço. E a equipe do Recomeço, quando precisava do Braços Abertos, usava.

A plebe estava alinhada, quem não estava eram os líderes, que polarizara­m isso em uma coisa política bizarra. O programa de redução de danos da gestão Haddad deveria ter acabado?

Precisava ser remodelado. Mas sou totalmente contra isso que o Doria está fazendo, internação compulsóri­a coletiva é insano, um absurdo.

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