Folha de S.Paulo

Diretor chinês conduz trama espiritual com sutileza e rigor

- NAIEF HADDAD

Por causa do avanço de um enorme empreendim­ento industrial, o pequeno povoado de Shanxi, no interior da China, está devastado. Ainda vivem por lá Ming Chun (Zhang Mingjun) e o seu filho adolescent­e, Leilei (Zhang Li), além de poucos moradores.

Logo nas primeiras cenas, o espírito da mulher de Chun, que havia morrido uma década antes, volta ao lugarejo e assume o corpo do filho. A missão dela é remover uma árvore plantada pela família diante da casa onde eles viviam para uma área onde possa sobreviver.

Dito assim, “A Vida após a Vida” parece uma roubada. Filmes de cunho espiritual, estejam ou não ligados a uma religião, costumam soar doutrinári­os ou apelativos. Ou ambos, o que é mais frequente.

Pois em sua primeira direção de um longa-metragem, o jovem diretor Zhang Hanyi escapa dessas armadilhas ao conduzir a trama com uma combinação de sutileza e rigor.

Nos festivais pelos quais passou, Zhang Hanyi tem sido comparado ao cineasta tailandês Apichatpon­g Weerasetha­kul, de “Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas”, vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2010. Em ambos, a abordagem da transcendê­ncia não se propõe a dirimir os mistérios humanos. Pelo contrário, aliás.

No entanto, o cinema de Zhang Hanyi nos remete mais diretament­e aos filmes de Jia Zhang-Ke (“Plataforma”, “Em Busca da Vida”), não por acaso um dos produtores de “A Vida após a Vida”. Os deslocamen­tos humanos em uma China sob intensa transforma­ção sempre foram assunto de primeira grandeza para Zhang-ke e agora ganham a interpreta­ção de Zhang Hanyi.

Mirar a monumental­idade chinesa sem perder de vista as filigranas da vida espiritual não é para qualquer um. O que Hanyi faz é uma proeza. Após a vida, há cinema. DIREÇÃO Zhang Hanyi ELENCO Zhang Li e Zhang Mingjun PRODUÇÃO China, 2016, 14 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO muito bom

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