Folha de S.Paulo

Escritora ‘marginal’, Juliana Frank faz estreia no teatro

Ela assina o texto de ‘Por Isso Fui Embora’, sobre personagen­s desiludido­s

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

Autora ainda prepara um monólogo policial sobre uma stripper e terá seu mais novo livro adaptado ao palco

Juliana Frank diz que prefere ler peças teatrais a assisti-las. “Gosto de teatro para ser lido. Porque eu fumo, fico nervosa dentro do lugar, então eu prefiro ler e imaginar.”

Escritora e roteirista, a paulistana radicada no Rio precisou imaginar seus escritos transposto­s no palco com “Por Isso Fui Embora”, sua primeira peça, que estreou no Rio no ano passado e inicia uma temporada paulistana nesta sexta-feira (26).

Frank, 31, conta que sempre quis escrever para teatro (“sou viciada em Shakespear­e, sei de cor algumas peças; adoro ‘Rei Lear’”). Mas “Por Isso” surgiu de um convite da atriz Camila Lucciola.

Pediu-se que a história, dirigida por Régis Faria, tivesse um triângulo amoroso, e a autora criou uma teia de personagen­s desiludido­s: uma escritora (Lucciola) descrente do amor, que vive uma série de relacionam­entos fortuitos; o dono do bar que ela frequenta (Flavio Rocha); um fotógrafo (Joaquim Lopes) com quem ela se relaciona; e a mulher dele (Juliana Knust).

A trama, como o relacionam­ento dos personagen­s, revolve em torno de um mesmo ambiente, o bar. “Quis criar um ambiente de asfixia”, afirma a autora.

É uma “estrutura mais simples, cotidiana”, diz Frank, diferente de seus livros, muitos de tom contestado­r, banhados a sexo e com referência­s à literatura marginal.

“Acho que ainda não cheguei numa linguagem muito completa [de teatro].” Segundo a autora, algumas primeiras versões do texto eram muito poéticas ou não funcionava­m como diálogo e precisaram ser adaptadas ao longo dos ensaios da peça.

Mas ela já prepara um novo espetáculo, um monólogo chamado “Nunca Aperte o Gatilho”, que nasceu de um rascunho para um romance que “não deu muito certo” como livro. “É a história de uma stripper, é meio policial.”

No segundo semestre, seu livro mais recente, “Uísque Vergonha”, também ganhará uma versão teatral, com adaptação e direção de Nelson Baskervill­e.

Seu universo contestado­r ainda permeia uma animação que a escritora está criando. Deve se chamar “Parte de JULIANA FRANK Escola” e retrata um grupo de alunos rebeldes dentro de uma instituiçã­o de ensino.

Frank, que despontou no cenário literário com com “Quenga de Plástico” (2011), é afeita a aparições performáti­cas —na Flip do ano passado, chegou a interagir com um espelho e mostrar a calcinha para a plateia.

Estudou teatro dos 7 aos 18, mas diz que não pensa em ser atriz. “Não me interessa nada que brilhe. Eu gosto de escrever porque o anonimato é legal e as pessoas esquecem que eu existo também. As pessoas dizem, ‘nossa, você tem um jeito [para atuar]’, mas também não vou ficar gastando ele, né?”, brinca.

“A minha vaidade não está aí. Minha vaidade está na minha bunda, eu malho ela e fico feliz.”

“interessa nada que brilhe. Eu gosto de escrever porque o anonimato é legal e as pessoas esquecem que eu existo também. A minha vaidade não está aí. Minha vaidade está na minha bunda, eu malho ela e fico feliz

QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 18h; até 16/7 ONDE Teatro Vivo, av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460, tel. (11) 32791520 e (11) 97420-1520 QUANTO R$40aR$80 CLASSIFICA­ÇÃO 14 anos

 ?? Jorge Bispo/Divulgação ?? Juliana Knust como a personagem Pérola na peça ‘Por Isso Fui Embora’, estreia no teatro da escritora Juliana Frank
Jorge Bispo/Divulgação Juliana Knust como a personagem Pérola na peça ‘Por Isso Fui Embora’, estreia no teatro da escritora Juliana Frank
 ?? Lenise Pinheiro/Folhapress ?? Marco Nanini é Ubu na montagem do texto de Alfred Jarry
Lenise Pinheiro/Folhapress Marco Nanini é Ubu na montagem do texto de Alfred Jarry

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil