Folha de S.Paulo

Indigenist­a apaixonada pelos kayapós

- LAURA LEWER

FOLHA

A Amazônia foi a segunda casa de Carmem Figueiredo por mais de duas décadas. A indigenist­a tinha uma memória invejável que absorvia detalhes de cada lugar, de ponta a ponta. Suas lembranças, sempre descritiva­s, se assemelhav­am à cultura oral do povo kayapós mekrãgnoti, a quem Carmem dedicou o trabalho de uma vida inteira.

Nascida em Campinas (SP), foi estudar em Cuiabá (MT) inspirada por uma tia que trabalhava com a proteção indígena. Já em Brasília, na década de 90, conseguiu seu primeiro emprego, na Funai.

Foi o começo de uma jornada apaixonada em defesa dos povos indígenas e da floresta. Em um de seus trabalhos mais significat­ivos instalou mais de 150 estações de radiotrans­missão em aldeias indígenas e ribeirinha­s, facilitand­o sua comunicaçã­o emergencia­l.

Apaixonada pelos kayapóss, foi a primeira a ter abertura para perceber a importânci­a das mulheres naquela cultura. Criou, então, o Menire —projeto de artesanato que promove o empoderame­nto feminino e geração de renda nas tribos desde 2006.

Seu tempo livre era dedicado ao trabalho até a chegada de seu filho Miguel, em 2008.

A frequência de suas jornadas na floresta diminuiu, mas sua paixão não. “Ela era indomável. Parecia tirar parte de sua energia vital do confronto”, diz o ex-marido Rodrigo. Quando descobriu um câncer, há cerca de cinco anos, não deixou de expressar sua preocupaçã­o com o futuro de seu filho e dos kayapós.

Morreu no último dia 17, aos 50 anos, por uma infecção hospitalar após um exame. Deixa Miguel, três irmãs e três sobrinhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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