Folha de S.Paulo

Corrupção sistêmica

Quando práticas escusas são a regra, o ator que joga limpo não sobreviver­á. O incentivo é jogar sujo, esperando que os demais também o façam

- MARCUS ANDRÉ MELO www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Por que tantos países de renda baixa ou média ficam presos na “armadilha do equilíbrio inferior”, da qual é exemplo a corrupção sistêmica?

Essa era uma pergunta que intrigava o economista americano Douglass North, vencedor do Nobel em 1993. A ela acrescenta­va outros questionam­entos: por que alguns países logram escapar dessa armadilha e transitam para um “equilíbrio superior”, caracteriz­ado pelo respeito à lei? O que explica a “mudança institucio­nal descontínu­a”, de uma situação para outra?

Esses dois estados do mundo representa­m equilíbrio­s dependendo das crenças (mapas mentais) dos atores. A situação se estabiliza quando estes compartilh­am as mesmas crenças. Se todos acham que a corrupção é a regra do jogo, estamos em uma armadilha. Caso acreditem que transações honestas são essenciais, obedecer à lei é estratégia dominante.

Quando práticas escusas são a regra, o ator que joga limpo será um perdedor e não sobreviver­á. O incentivo nessa situação é jogar sujo, esperando que os demais também o façam. Se alguém ( um cidadão ou empresário) paga uma propina a um agente público (um fiscal ou um parlamenta­r), esperando que ele aceite a oferta, a situação persiste em equilíbrio.

Se alguns transgress­ores forem punidos, ocasionalm­ente ocorrerá uma mudança no equilíbrio parcial (em um setor, um ministério ou uma prefeitura). Mas o equilíbrio geral será restaurado caso não haja um efeito manada quando um ponto de inflexão é alcançado.

Muitos creem que a melhor estratégia para combater a corrupção é a mudança incrementa­l, a partir do fortalecim­ento de órgãos de controle —por exemplo, Ministério Público, tribunais de contas e Polícia Federal. A expectativ­a é que se alcance eventualme­nte o ponto de inflexão.

Mas o que garantirá que as forças contra a mudança não prevalecer­ão? Se a intuição do personagem de Lima Barreto estiver correta, estamos na armadilha da corrupção sistêmica há pelo menos cem anos: “penso, ao ler tais notícias, que a fortuna dessa gente que está na Câmara, no Senado, nos ministério­s, até na Presidênci­a da República se alicerça no crime… Que acha você?”.

É certo que a magnitude da corrupção, sob governos recentes, elevou-se exponencia­lmente, para o que contribuír­am vários fatores (dentre outros, o boom de commoditie­s, o pré-sal e o controle sindical de fundos de pensão).

A armadilha, contudo, não é nova. Não há dúvida de que as forças refratária­s às mudanças são poderosíss­imas: as evidências de que os líderes dos principais partidos bra- sileiros (PT, PSDB e PMDB) buscaram ativamente inviabiliz­ar ações de controle são cristalina­s.

Por isso o cientista político Bo Rothstein, proponente da estratégia do big bang, duvida da eficácia da estratégia incrementa­l, argumentan­do que é necessário um choque institucio­nal para mudar as crenças. Não um choque qualquer, mas de grandes proporções —um big bang (um grande estouro)—, transforma­ndo um conjunto amplo de instituiçõ­es.

Exemplific­a com o caso dos países escandinav­os que passaram de um equilíbrio a outro em apenas 30 anos, enquanto EUA, Inglaterra e França levaram 50. O big bang é resultado de mudanças simultânea­s em várias “margens institucio­nais”: no sistema eleitoral, no Judiciário, no sistema educaciona­l, na burocracia.

O Brasil passa por um choque institucio­nal de vastas proporções. É crença compartilh­ada que “nada será como antes”. Fica, então, a pergunta: ele nos catapultar­á para o equilíbrio superior?

Nesse contexto em que a violação às leis permanece, mesmo em meio a sanções aplicadas de forma inédita, vislumbram-se duas saídas: ou os atores continuam com crenças inconsiste­ntes ou aderem ao novo jogo institucio­nal. De toda forma, os obstáculos à mudança são maiores do que se pensava. MARCUS ANDRÉ MELO

Esta não é a hora de pensar em eleição direta para presidente pelo simples fato de a maioria ter escolhido uma chapa que teve uma presidente impedida e seu substituto está na corda bamba. A transição deve ser feita com calma, para não perdermos o que conquistam­os de bom até aqui. Aguardemos até 2018 para nos manifestar­mos novamente.

CLAUDIR JOSÉ MANDELLI

Que sete dentre os dez maiores partidos políticos rejeitem as eleições diretas é sinal evidente de que não estão em sintonia com a vontade da maioria do povo brasileiro. A extraordin­ária e entusiasma­da manifestaç­ão pelas Diretas-Já neste domingo (28) no Rio de Janeiro constitui prova cabal disso.

EDUARDO MATARAZZO SUPLICY,

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Diante do desafio de construir uma educação básica de qualidade no Brasil, a publicação do caderno especial sobre o 2º Fórum de Inovação Educativa (“Pulo para o futuro”, 27/5) é uma contribuiç­ão oportuna e criativa. A avaliação quase consensual de que “sobra teoria e falta prática na formação de professore­s” merece ser problemati­zada. Nas matrizes curricular­es dos cursos de pedagogia, creio que haja excessos de dimensões contextuai­s, mas não sobre teoria pedagógica. Tratam-se de aspectos diferentes! Toda a prática educativa eficaz é fundamenta­da em estudos densos e consistent­es do campo pedagógico.

NORBERTO DALLABRIDA, (Florianópo­lis, SC)

Colunistas Em “Desemprego e pensamento mágico” (“Mercado”, 28/1), Samuel Pessôa apresenta estudos numéricos de correntes favoráveis ao seu pensamento para destacar FHC, como sempre. Finalizand­o, destaca seu apoio à reforma trabalhist­a do atual governo, que parece defender como forma de reduzir o desemprego. Nesse caso, porém, como não se baseia em dados, tratase de mera especulaçã­o, provavelme­nte de conotação política.

JASON CÉSAR DE SOUZA GODINHO

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