Corrupção sistêmica
Quando práticas escusas são a regra, o ator que joga limpo não sobreviverá. O incentivo é jogar sujo, esperando que os demais também o façam
Por que tantos países de renda baixa ou média ficam presos na “armadilha do equilíbrio inferior”, da qual é exemplo a corrupção sistêmica?
Essa era uma pergunta que intrigava o economista americano Douglass North, vencedor do Nobel em 1993. A ela acrescentava outros questionamentos: por que alguns países logram escapar dessa armadilha e transitam para um “equilíbrio superior”, caracterizado pelo respeito à lei? O que explica a “mudança institucional descontínua”, de uma situação para outra?
Esses dois estados do mundo representam equilíbrios dependendo das crenças (mapas mentais) dos atores. A situação se estabiliza quando estes compartilham as mesmas crenças. Se todos acham que a corrupção é a regra do jogo, estamos em uma armadilha. Caso acreditem que transações honestas são essenciais, obedecer à lei é estratégia dominante.
Quando práticas escusas são a regra, o ator que joga limpo será um perdedor e não sobreviverá. O incentivo nessa situação é jogar sujo, esperando que os demais também o façam. Se alguém ( um cidadão ou empresário) paga uma propina a um agente público (um fiscal ou um parlamentar), esperando que ele aceite a oferta, a situação persiste em equilíbrio.
Se alguns transgressores forem punidos, ocasionalmente ocorrerá uma mudança no equilíbrio parcial (em um setor, um ministério ou uma prefeitura). Mas o equilíbrio geral será restaurado caso não haja um efeito manada quando um ponto de inflexão é alcançado.
Muitos creem que a melhor estratégia para combater a corrupção é a mudança incremental, a partir do fortalecimento de órgãos de controle —por exemplo, Ministério Público, tribunais de contas e Polícia Federal. A expectativa é que se alcance eventualmente o ponto de inflexão.
Mas o que garantirá que as forças contra a mudança não prevalecerão? Se a intuição do personagem de Lima Barreto estiver correta, estamos na armadilha da corrupção sistêmica há pelo menos cem anos: “penso, ao ler tais notícias, que a fortuna dessa gente que está na Câmara, no Senado, nos ministérios, até na Presidência da República se alicerça no crime… Que acha você?”.
É certo que a magnitude da corrupção, sob governos recentes, elevou-se exponencialmente, para o que contribuíram vários fatores (dentre outros, o boom de commodities, o pré-sal e o controle sindical de fundos de pensão).
A armadilha, contudo, não é nova. Não há dúvida de que as forças refratárias às mudanças são poderosíssimas: as evidências de que os líderes dos principais partidos bra- sileiros (PT, PSDB e PMDB) buscaram ativamente inviabilizar ações de controle são cristalinas.
Por isso o cientista político Bo Rothstein, proponente da estratégia do big bang, duvida da eficácia da estratégia incremental, argumentando que é necessário um choque institucional para mudar as crenças. Não um choque qualquer, mas de grandes proporções —um big bang (um grande estouro)—, transformando um conjunto amplo de instituições.
Exemplifica com o caso dos países escandinavos que passaram de um equilíbrio a outro em apenas 30 anos, enquanto EUA, Inglaterra e França levaram 50. O big bang é resultado de mudanças simultâneas em várias “margens institucionais”: no sistema eleitoral, no Judiciário, no sistema educacional, na burocracia.
O Brasil passa por um choque institucional de vastas proporções. É crença compartilhada que “nada será como antes”. Fica, então, a pergunta: ele nos catapultará para o equilíbrio superior?
Nesse contexto em que a violação às leis permanece, mesmo em meio a sanções aplicadas de forma inédita, vislumbram-se duas saídas: ou os atores continuam com crenças inconsistentes ou aderem ao novo jogo institucional. De toda forma, os obstáculos à mudança são maiores do que se pensava. MARCUS ANDRÉ MELO
Esta não é a hora de pensar em eleição direta para presidente pelo simples fato de a maioria ter escolhido uma chapa que teve uma presidente impedida e seu substituto está na corda bamba. A transição deve ser feita com calma, para não perdermos o que conquistamos de bom até aqui. Aguardemos até 2018 para nos manifestarmos novamente.
CLAUDIR JOSÉ MANDELLI
Que sete dentre os dez maiores partidos políticos rejeitem as eleições diretas é sinal evidente de que não estão em sintonia com a vontade da maioria do povo brasileiro. A extraordinária e entusiasmada manifestação pelas Diretas-Já neste domingo (28) no Rio de Janeiro constitui prova cabal disso.
EDUARDO MATARAZZO SUPLICY,
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Diante do desafio de construir uma educação básica de qualidade no Brasil, a publicação do caderno especial sobre o 2º Fórum de Inovação Educativa (“Pulo para o futuro”, 27/5) é uma contribuição oportuna e criativa. A avaliação quase consensual de que “sobra teoria e falta prática na formação de professores” merece ser problematizada. Nas matrizes curriculares dos cursos de pedagogia, creio que haja excessos de dimensões contextuais, mas não sobre teoria pedagógica. Tratam-se de aspectos diferentes! Toda a prática educativa eficaz é fundamentada em estudos densos e consistentes do campo pedagógico.
NORBERTO DALLABRIDA, (Florianópolis, SC)
Colunistas Em “Desemprego e pensamento mágico” (“Mercado”, 28/1), Samuel Pessôa apresenta estudos numéricos de correntes favoráveis ao seu pensamento para destacar FHC, como sempre. Finalizando, destaca seu apoio à reforma trabalhista do atual governo, que parece defender como forma de reduzir o desemprego. Nesse caso, porém, como não se baseia em dados, tratase de mera especulação, provavelmente de conotação política.
JASON CÉSAR DE SOUZA GODINHO