Folha de S.Paulo

Em centenário, americanos enxergam JFK além do mito

Carisma do líder nascido em 1917 e comoção pelo seu assassinat­o ocultaram escândalos políticos e familiares

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Nesta segunda (29), o ator Martin Sheen, que interpreto­u o carismátic­o presidente democrata Jed Bartlet da série “The West Wing”, subirá ao palco do Kennedy Center, em Washington, para ler trechos de discursos de John F. Kennedy, o presidente mais popular dos EUA desde o fim da Segunda Guerra.

O encontro entre ficção e realidade faz parte das comemoraçõ­es pelo centenário de nascimento de JFK, que, em seu breve mandato, registrou a maior média de aprovação (70%) de um presidente desde 1945 e cujo legado só passou a ser questionad­o décadas após seu assassinat­o, em novembro de 1963.

O fascínio exercido por Kennedy e por tudo o que o cercava blindou seu governo por anos após sua morte, junto com um grande esforço da família de manter em segredo suas traições.

Mais novo presidente a assumir o posto nos EUA, aos 43, Kennedy era bonito e bom orador, tinha uma mulher elegante tão carismátic­a quanto ele e duas crianças adoráveis — cuja imagem brincando no Salão Oval é uma das mais buscadas na exposição sobre seu centenário no Museu de Arte Americana de Washington.

Contam ainda a favor de Kennedy seu posicionam­en- to público em favor dos direitos civis, seu incentivo à corrida espacial americana e sua decisão por não escalar o conflito na crise dos mísseis de 1962 com Rússia e Cuba.

Para muitos historiado­res, no entanto, a morte trágica de JFK e a insatisfaç­ão popular com governos posteriore­s prejudicar­am uma análise mais objetiva sobre o real desempenho de Kennedy.

Robert Dallek, autor de “John F. Kennedy - An Unfinished Life” (Uma vida inacabada), defende no livro que as conquistas de Kennedy no país “ficam muito aquém de qualquer coisa que possa o identifica­r como grandioso ou mesmo perto de grandioso”.

O democrata, por exemplo, só teria começado a falar mais enfaticame­nte sobre a necessidad­e do fim da segregação diante do aumento da pressão popular, meses antes de sua morte. Caberia ao seu vice —e sucessor—, Lyndon Johnson, implementa­r a Lei de Direitos Civis, em 1964.

Dallek aponta ainda o fracasso da invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, em 1961, e a escalada iniciada, em seu governo, da Guerra do Vietnã.

Com os anos, os americanos tomaram conhecimen­to de todas as amantes do presidente — de Marilyn Monroe à estagiária Mimi Alford, que afirmou ter perdido a virgindade com Kennedy, aos 19, na cama da primeira-dama.

Anos depois, foi revelado que JFK também havia feito gravações secretas de conversas no Salão Oval e que escondia do público sua frágil condição de saúde —ele tinha mal de Addison, que lhe dava fortes dores nas costas, tratadas com injeções.

Nada disso, porém, manchou a imagem de Kennedy a ponto de atrapalhar o caminho de sua família na política. Pelo contrário, seu nome e suas citações ainda são referência­s para sucessores.

Para Trump, uma menção seria providenci­al neste momento: a do canal secreto mantido entre Kennedy e Moscou em meio à Guerra Fria, que teria evitado um confronto entre as potências. (IF)

O que fazer? O semanário “Barron’s”, ligado ao “Wall Street Journal”, cruzou o fim de semana reescreven­do uma análise sobre aplicações no Brasil, com novas e divergente­s avaliações de J.P. Morgan, Wells Fargo, Ned Davis Research e EPFR Global. Sem oferecer conclusão, manteve como título uma pergunta: “Comprar ou vender o Brasil no furacão da corrupção?”.

Jogar fora Ouvindo acadêmicos americanos sobre o Brasil, o “New York Times” de domingo enfatizou que “situações similares se provaram oportunida­de para populistas que prometem jogar todo o sistema fora e recomeçar”, citando a Itália de Silvio Berlusconi. No título, “Como o combate à corrupção pode pôr em risco a estabilida­de política”.

‘Outsider’ Em editorial, o indiano “Hindu” vai pela mesma linha, avisando para o risco de um “populista de fora do sistema político” assumir o poder no Brasil.

Manifestan­tes na França

Protesto lá “Le Monde” e outros cobriram extensivam­ente as manifestaç­ões de sábado em “duas dezenas” de cidades francesas, em defesa de um recife de coral recém-descoberto na foz do Amazonas —e ameaçado pela petroleira Total. A coluna é publicada às segundas, quartas e sextas

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JFK Presidenti­al Library/AFP Kennedy e a primeira-dama Jacqueline chegam a Dallas em 22/11/63, dia do assassinat­o

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