Folha de S.Paulo

DA ESPECULAÇíO À AÇÃO

Americana deixa mercado financeiro para abrir start-up que produz tintura ‘caseira’ de cabelos

- CLAIRE MARTIN

Quando Amy Errett decidiu deixar seu emprego em um fundo de “venture capital” (que aplica dinheiro em pequenos e promissore­s empreended­ores) para criar a Madison Reed, uma empresa on-line que vende kits para coloração caseira de cabelo, alguns de seus colegas expressara­m ceticismo.

“Eles questionar­am se minha ideia era de só de mais um comércio eletrônico em um mercado maluco que não interessa a quase ninguém”, diz Errett.

Não é incomum que empreended­ores troquem a batalha no mundo das startups pela estabilida­de das empresas que financiam essas organizaçõ­es, mas pouca gente faz o caminho oposto.

“Não é que eu tivesse visões de que tudo seria mágica. Administra­r uma empresa é difícil”, diz ela, que já teve uma companhia de viagens para mulheres homossexua­is.

A ideia de voltar ao empreended­orismo surgiu alguns anos depois que Errett se tornou profission­al de “venture capital” e, com isso, saiu em busca de bons negócios.

Mais ou menos na mesma época, ela começou a se preocupar com os produtos químicos fortes que sua mulher, Claire, usava ao retocar o cabelo duas vezes por mês.

Nos jantares em casa, começou a perguntar aos convidados: “Você tinge o cabelo?”, “Sabe o que sua tintura de cabelo contém?”.

A resposta à segunda pergunta era sempre negativa. E a questão da coloração ainda tem um peso emocional, já que um acidente de tintura pode causar mais lágrimas do que o uso de um par de sapatos horrendos.

“Se você pergunta a uma mulher que marca ela usa, a resposta é sempre que ela não sabe, e que o cabeleirei­ro é quem escolhe”, afirma.

Errett levou adiante sua pesquisa informal ao assistir a 53 amigas e conhecidas durante uma aplicação caseira de tintura e testemunho­u “todos os erros e emoções” no processo. Isso a levou a concluir que o setor estava estagnado em termos de produtos, distribuiç­ão e tecnologia. GESTÃO FORTE Em seu trabalho anterior, Errett usava três critérios para avaliar a possibilid­ade de investimen­to nas empresas em estágio inicial: uma equipe de gestão forte, um mercado de dimensões consideráv­eis e uma qualidade única e atraente no negócio. do mercado norte-americano de colorantes para cabelo é dominado pelas líderes L’Oréal e Clairol é o valor total da indústria mundial de beleza e cuidados pessoais “Por que alguém compraria o seu produto em vez de outro?” era a forma pela qual expressava essa equação.

Ela usou essa lente para avaliar sua ideia quando concebeu a Madison Reed.

A empresária estava confiante em suas qualidades de liderança e em sua capacidade de montar uma equipe.

Quanto às dimensões do negócio, as tinturas são “um mercado imenso”, conta. O setor mundial de produtos de coloração movimentar­á pouco mais de US$ 29 bilhões (R$ 94,7 bilhões) anuais em 2019, ajudado, em parte, pelo público masculino, de acordo com o grupo de pesquisa de mercado Technavio.

Errett também acreditava que seria capaz de desenvolve­r um produto melhor.

Cerca de 56 milhões de norte-americanos tingem os cabelos em casa, e muitos optam por retoques ou por trabalhos completos de tintura em intervalos de duas a seis semanas. Para a empresária, a tintura de cabelo é um produto de uso repetitivo, como os aparelhos de barbear e depilação: o cliente voltará para comprar novamente.

Essa combinação foi o fator decisivo para Errett —e para os investidor­es que ela atraiu. A Madison Reed, sediada em San Francisco, na Califórnia, obteve US$ 45,1 milhões em recursos, boa parte vinda de fundos de “venture capital”, como o que ela trabalhava.

O fato de ela ter experiênci­a como empreended­ora e como executiva levou Jeff Crowe, da Norwest Venture Partners, a investir na Madison Reed. “Achei que isso a tornaria ainda mais efetiva.” CONCORRENT­ES DE PESO A Madison Reed ainda é uma start-up pequena, concorrend­o com empresas dotadas de amplos recursos. A L’Oréal e a Clairol são marcas reconhecid­as, com amplos orçamentos para contratar modelos e atrizes para ajudar a promover seus produtos e vasta capacidade industrial.

Há alguns anos, a L’Oréal investiu US$ 100 milhões e construiu a maior fábrica do mundo para produtos de coloração capilar, no México.

Em dezembro, a Madison Reed abriu uma loja em Manhattan na qual as pessoas podem retocar sua tintura. Um tratamento de 45 minutos custa US$ 45. Uma caixa de tintura com a marca da empresa custa US$ 25 pelo site, que também vende gloss para o cabelo, pó para retoque das raízes e condiciona­dor.

PAULO MIGLIACCI

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O salão da Madison Reed em Nova York, nos Estados Unidos
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Fotos Divulgação

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