Folha de S.Paulo

Um ministro, duas missões

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BRASÍLIA - Ao nomear Torquato Jardim, o presidente Michel Temer faz uma aposta agressiva para se manter no poder. O novo ministro da Justiça assume com duas missões claras: controlar a Polícia Federal e adiar o julgamento do chefe no TSE.

Em três meses no cargo, Osmar Serraglio não conseguiu domar os homens de preto. Pelo contrário: foi desmoraliz­ado ao estrelar um grampo da Operação Carne Fraca. No áudio, chamava de “grande chefe” um fiscal acusado de corrupção.

Enfraqueci­do, o ministro virou a Geni da Esplanada. Foi chamado de “bosta” por Aécio Neves e de coisas piores por colegas do PMDB. Ejetado da Justiça, pode cair na cadeira de ministro da Transparên­cia. Não será um prêmio de consolação. Se voltar à Câmara, Serraglio tomará o mandato e o foro privilegia­do de Rodrigo Rocha Loures, o deputado da mala.

Antes de tomar posse, Torquato já mostrou a que veio. Disse que consultará Temer antes de decidir se mantém o diretor da PF. Em português claro: ele perguntará ao investigad­o se deve trocar o chefe dos investigad­ores. Resta saber se os delegados aceitarão o cabresto sem reclamar.

A outra missão de Torquato é protelar ainda mais o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE. Ele disse ao “Correio Braziliens­e” que seria “a coisa mais natural” um ministro da corte pedir vista do processo. Sem cerimônia, sugeriu para a tarefa o novato Admar Gonzaga. Com isso, o presidente ganharia tempo para usar a caneta e tentar se segurar no Planalto.

O ministro Gilmar Mendes, sempre ele, indicou nesta segunda que o plano pode funcionar. “Se houver pedido de vista, é algo absolutame­nte normal. Ninguém fará por combinação com esse ou aquele”, disse. Então ficamos todos combinados assim.

O ex-ministro Guido Mantega admitiu que mantém US$ 600 mil numa conta não declarada na Suíça. O que o petista classifico­u como “erro” tem outro nome na legislação penal.

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