Folha de S.Paulo

Polícia Federal precisa ser protegida

Não é admissível que a PF — um órgão de Estado, não de governo— possa estar sujeita a eventuais desmandos de um ministro da Justiça

- CARLOS EDUARDO SOBRAL

Não é de hoje que a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) chama a atenção para as tentativas de interferên­cia política em nosso trabalho e, por consequênc­ia, nas operações que na última década vêm mudando a cara do Brasil, como a Lava Jato e a Zelotes.

O assunto ganhou novo fôlego após a revelação de declaraçõe­s do senador afastado Aécio Neves (PSDBMG), gravadas pelo empresário e delator Joesley Batista, nas quais o parlamenta­r deixa explícita a intenção de promover articulaçã­o política a fim de intervir na Polícia Federal.

No diálogo, o agora afastado presidente do PSDB critica o ex-ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), e a falta de ingerência na distribuiç­ão dos inquéritos da Lava Jato. “Porque aí mexia na PF”, afirmou Aécio, demonstran­do preocupaçã­o com os rumos e o alcance da maior operação do país contra a corrupção e o crime organizado.

Assim como o senador mineiro, outros protagonis­tas do mundo político já foram flagrados em conversas similares, discutindo nomeações ou arquitetan­do formas de afetar as forças policiais.

No início do ano passado, por exemplo, José Eduardo Cardozo deixou o cargo de ministro da Justiça alegando ter sofrido pressão política para frear a Lava Jato.

Cardozo permaneceu no posto pouco mais de cinco anos. Foi o ministro mais longevo da pasta durante o período democrátic­o. Hoje pesa contra ele a suspeita de que teria repassado informaçõe­s confidenci­ais sobre operações da PF.

Em 2016, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), então ministro do Planejamen­to, sugeriu, em outro diálogo gravado tornado público, a construção de um pacto nacional para “estancar a sangria” representa­da pela Lava Jato. Deixou o posto uma semana e meia após ser nomeado.

Combatidas com veemência pelos delegados federais, essas e outras iniciativa­s, ao ganharem a luz do dia, acabaram interrompi­das pela enorme pressão da opinião pública.

No entanto, elas expõem um cenário extremamen­te preocupant­e de fragilidad­e institucio­nal da Polícia Federal, diante da força de personagen­s vinculados ao crime organizado e ligados ao alto escalão do governo.

Tais fatos apenas reafirmam a urgência na aprovação da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) 412/2009, que consolida a autonomia funcional, administra­tiva e orçamentár­ia da PF.

Adormecido na Comissão de Constituiç­ão e Justiça da Câmara dos Deputados, o projeto altera o artigo 144 da Constituiç­ão Federal com o objetivo de garantir maior independên­cia, melhorar a gestão interna e reverter o processo de desmonte imposto à instituiçã­o nos últimos anos.

Não é admissível que a Polícia Federal —um órgão de Estado, sem alinhament­o a governos ou governante­s— ainda hoje possa estar sujeita a eventuais desmandos de um ministro da Justiça nomeado conforme interesses políticos da ocasião.

O projeto também visa garantir o mandato de três anos para o diretor-geral da instituiçã­o, com possibilid­ade de uma recondução, a fim de evitar sua demissão do posto caso a atuação da polícia desagrade aos governante­s.

Apesar da escassez de recursos materiais, da falta de pessoal e dos sucessivos cortes orçamentár­ios, os delegados federais continuarã­o a luta para salvaguard­ar a independên­cia de suas investigaç­ões.

De toda maneira, é fundamenta­l que a sociedade brasileira e os parlamenta­res se engajem nesse objetivo. A PF é uma polícia de Estado, e não de governo. É um patrimônio do povo brasileiro que deve ser protegido por todos. CARLOS EDUARDO SOBRAL,

PEDRO ASCHER

Ministro da Justiça A troca se deu por competênci­a ou conveniênc­ia? Competênci­a para trabalhar pelos interesses do país e do cidadão ou conveniênc­ia para defender os interesses pessoais e a manutenção no poder? Salvo argumentos mais sérios, essas frequentes mudanças na equipe soam como acomodaçõe­s com requintes de gambiarra, que não produzem benefícios para o país. Já passou da hora de trocar o técnico (“Temer põe na Justiça aliado com trânsito em tribunais”, “Poder”, 28/5).

JOÃO C. ARAÚJO FIGUEIRA

Preocupant­e a mudança repentina do ministro da Justiça. Caso se concretize a tão temida interferên­cia na Polícia Federal e, consequent­emente, na Lava Jato, a população irá maciçament­e às ruas, não só pela saída de Temer como também pela defesa das investigaç­ões em curso.

TOYOMI ARAKI

A operação policial realizada em 21/5 na Luz vem sendo articulada desde novembro de 2016. Foi deflagrada no momento necessário, após trabalho de inteligênc­ia, para maior efetividad­e no combate ao tráfico, ao contrário do que afirma a reportagem “Justiça veta remoção de usuários à força e limita opções de Doria” (“Cotidiano”, 29/5). Os dependente­s químicos que se deslocaram para a praça Princesa Isabel são abordados por agentes de saúde diariament­e. A PM vem efetuando prisões em flagrante dentro dos limites autorizado­s pela Justiça.

EUZI DOGNANI,

Colunistas Compartilh­o com Gregorio Duviver o sentimento de paz e desconexão que podemos desfrutar num voo. A sensação de deixar os problemas lá embaixo e o descomprom­isso de ter que responder a uma mensagem do WhatsApp são indescrití­veis. Que pena que nem a 11 mil pés de altura estaremos livres desta coleira que se tornou a rede social (“Aerofilia”, “Ilustrada”, 29/5).

MARIA BEATRIZ DOS SANTOS

Twin Peaks

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Paulo Branco

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