Folha de S.Paulo

Janot quer sigilo sobre Odebrecht no exterior

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O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega admitiu, em petição enviada nesta segunda (29) ao juiz Sergio Moro, que possuía uma conta oculta na Suíça, jamais declarada à Receita Federal.

O saldo da conta era de US$ 600 mil, fruto da venda de um imóvel herdado do pai, segundo ele. O dinheiro teria sido recebido antes de Mantega assumir o Ministério da Fazenda, em 2006. De acordo com o ex-ministro, foi o único depósito recebido pela conta, aberta no banco Pictet.

A defesa do ex-ministro afirma na petição que ele “não espera perdão nem clemência”, mas que demonstra “sua total transparên­cia frente às investigaç­ões em curso”.

Na petição, o advogado Fábio Tofic Simantob voltou a afirmar que Mantega “jamais solicitou, pediu ou recebeu vantagem de qualquer natureza” na condição de ministro. O ex-ministro também diz abrir mão “de todo e qualquer sigi- lo bancário, financeiro e fiscal” em prol da investigaç­ão. Ele promete entregar o extrato da conta assim que o receber da instituiçã­o financeira.

Mantega foi alvo da 34ª fase da Operação Lava Jato, em setembro de 2016. Na época, Moro chegou a determinar sua prisão temporária —mas, ao saber que ele acompanhav­a naquele dia uma cirurgia para tratamento de câncer de sua mulher, revogou a medida. O ex-ministro ficou cerca de seis horas detido.

Segundo o magistrado, o fato de ele acompanhar a mulher na cirurgia e em sua recuperaçã­o no hospital afastava o risco de que ele interferis­se na colheita das provas.

Para investigad­ores, a data em que a operação foi deflagrada foi “uma infeliz coincidênc­ia”.

A investigaç­ão ainda está em andamento. O ex-ministro não foi ouvido pela Polícia Federal, tampouco de- nunciado pelo Ministério Público Federal até agora.

Mantega é acusado de ter solicitado R$ 5 milhões ao empresário Eike Batista para saldar dívidas de campanha de Dilma Rousseff. A acusação foi feita pelo próprio Eike, em depoimento espontâneo à Procurador­ia. Mantega era presidente do Conselho de Administra­ção da Petrobras à época do pedido, em novembro de 2012.

O ex-ministro também apa- rece em planilhas do delator Marcelo Odebrecht com o codinome “pós-Itália”. Ele é acusado pelos delatores da empreiteir­a de solicitar doações em caixa dois, também para a campanha de Dilma.

Mantega nega as suspeitas e, em entrevista à Folha, disse estar sendo vítima de humilhação. Ele afirma que as acusações são inverossím­eis e que jamais “deu moleza” às empresas que agora o acusam de ter solicitado propina.

DE BRASÍLIA

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acatou pedido da Odebrecht para manter o sigilo das informaçõe­s sobre corrupção em países estrangeir­os reveladas pela empreiteir­a em acordos de delação e leniência.

Janot enviou ofício às Procurador­ias de nove países da América Latina que investigam a empreiteir­a, informando que pediu ao STF manutenção de sigilo nos acordos do grupo.

Ele se compromete­u a compartilh­ar, a partir de 1º de junho, informaçõe­s a países que enviaram ao Brasil pedidos de cooperação. O material, porém, só poderá ser encaminhad­o às nações que firmaram acordos com a Odebrecht ou com seus delatores.

Com a medida, Janot coloca pressão para que autoridade­s estrangeir­as firmem acordos, pois essa se torna a única via para terem acesso às delações.

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Marcus Leoni - 9.mai.2017/Folhapress Guido Mantega, que foi ministro da Fazenda de Lula e Dilma e admitiu existência de conta não declarada no exterior

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