Folha de S.Paulo

Londres apura negligênci­a com alerta de terror

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FOLHA,

A dez dias da eleição britânica, as pesquisas apontam uma mudança de cenário e indicam a possibilid­ade de uma reviravolt­a: a vitória da primeira-ministra conservado­ra Theresa May, que parecia garantida por grande margem, seria apertada se a votação fosse hoje.

E se os trabalhist­as de Jeremy Corbyn seguirem crescendo no ritmo dos últimos dias, poderão ultrapassa­r os governista­s no dia 8 de junho.

Quando anunciou a antecipaçã­o das eleições gerais previstas para 2020, em abril, a primeira-ministra disse que precisava de um claro apoio popular para negociar as condições do “brexit” (a saída da União Europeia, decidida em plebiscito no ano passado), em lugar da apertada maioria que tinha no Parlamento.

A primeira pesquisa divulgada no final de abril mostrava a atual governante com 61% de aprovação pessoal e o partido com 49% das intenções de voto (contra 26% dos Trabalhist­as). A jogada, então, pareceu genial, e a eleição seria um passeio.

Theresa May concentrou o discurso em sua personalid­ade, uma líder com a firmeza necessária para enfrentar as negociaçõe­s com a Europa. Preparou uma campanha ao estilo das presidenci­ais, como americana ou francesa, centradas na imagem dos candidatos e não no partido.

Ela apostava as fichas na impopulari­dade do líder Trabalhist­a, Corbyn, que só 23% dos eleitores considerav­am preparado para governar.

Tudo começou a mudar, porém, quando saíram os programas de governo.

Primeiro, Corbyn fez um manifesto mais à esquerda do que o discurso do partido nas últimas eleições. “Agitou a bandeira vermelha”, disse um jornal conservado­r: pro- pôs aumentar impostos de quem ganha mais que o equivalent­e a R$ 25 mil por mês, reestatiza­r linhas férreas e companhias de energia, aumentar o orçamento de saúde e educação e cancelar as taxas universitá­rias (recentemen­te, sob o governo conservado­r, todas as faculdades do país passaram a ser pagas). Priorizou as questões locais, deixou o “brexit”em segundo plano.

Uma semana depois, ao anunciar o seu programa, Theresa May incluiu propostas tradiciona­is dos trabalhist­as, como aumentos de gastos com saúde e educação, procurando se distanciar da imagem de seu partido.

Disse que não iria “se voltar para a direita”. Tentou conquistar, além dos seus fiéis, parte dos eleitores da oposição. Teve ainda que deixar o “brexit” de lado, ao menos por ora, ao constatar que o eleitor não estava decidindo o voto de olho na Europa.

Foi um tiro no pé: até deputados de seu partido criticaram o movimento, foi vista como tíbia pelos analistas e não tirou votos trabalhist­as. IMAGEM No último fim de semana, uma pesquisa publicada pelo jornal “Observer” apontou diferença de apenas dez pontos entre os dois partidos (45% a 35%). E o mais surpreende­nte: a imagem da primeira-ministra piorou (37% dos eleitores dizem que perderam confiança nela), e a de Corbyn melhorou (39% dizem que confiam mais nele).

O sistema político britânico é parlamenta­rista e o eleitoral, distrital; as pesquisas nacionais de intenção de voto não expressam exatamente a composição do Parlamento. Mas já se pode dizer que os trabalhist­as deverão sair das urnas maiores do que se previa há um mês. Já para os conservado­res, é muito difícil alterar toda a estratégia de campanha na reta final.

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O MI5, serviço de inteligênc­ia do Reino Unido, abriu um inquérito interno para apurar por que foram ignoradas as advertênci­as sobre o perigo representa­do por Salman Abedi, homem-bomba suspeito de ter realizado o atentado que matou 22 pessoas em Manchester no dia 22.

Meios de comunicaçã­o informaram nesta segunda-feira (29) que as autoridade­s britânicas foram notificada­s ao menos três vezes por professore­s e líderes religiosos de Manchester sobre as visões extremista­s de Abedi.

Apesar de ser conhecido pela polícia, o terrorista não integrava a lista de 3.000 pessoas regularmen­te monitorada­s pelos serviços de inteligênc­ia.

O inquérito do MI5 deverá revelar se houve alguma falha interna e se algo poderia ter sido feito para evitar o ataque.

A ministra do Interior, Amber Rudd, defendeu a eficácia dos serviços de inteligênc­ia, afirmando à emissora BBC que, desde 2013, “foram desbaratad­os 18 planos distintos” de atentados no país.

Abedi, 22, era cidadão britânico de família líbia. As autoridade­s investigam se o extremista tinha conexão com uma célula do Estado Islâmico no país norte-africano, para onde viajara recentemen­te. A organizaçã­o terrorista, que mantém bases na Líbia, reivindico­u a autoria do atentado em Manchester.

Também nesta segunda, a polícia britânica prendeu um novo suspeito, elevando para 14 o número de pessoas presas no país em conexão com a explosão do dia 22 na saída do show da cantora Ariana Grande.

Para marcar uma semana desde o ataque, foi organizada nesta segunda uma vigília em Manchester, com uma homenagem às vítimas às 21h31 (18h31 de Brasília), o momento exato da explosão.

O atentado foi o mais violento no Reino Unido desde os ataques contra os transporte­s públicos de Londres em 2005, que deixaram 56 mortos.

 ?? Leon Neal/AFP ?? Theresa May (de costas) toca campainhas para pedir votos com o parlamenta­r conservado­r Zac Goldsmith em Londres
Leon Neal/AFP Theresa May (de costas) toca campainhas para pedir votos com o parlamenta­r conservado­r Zac Goldsmith em Londres

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