Folha de S.Paulo

EUA fazem hoje teste de sistema que intercepta mísseis

Tecnologia da Coreia do Norte, que fez novo lançamento, daria a Washington pouco tempo para responder a ataque

- DAVID E. SANGER WILLIAM J. BROAD

Segundo analistas, sistemas teriam consumido cerca de US$ 330 bilhões em investimen­tos

O Pentágono prepara o primeiro teste em três anos de seu multibilio­nário projeto de intercepta­ção de ogivas norte-coreanas, e a esperança é demonstrar que um sistema que registrou resultados positivos em menos de metade dos nove testes anteriores agora está funcionand­o.

No teste projetado, um foguete intercepta­dor vai ser lançado da costa da Califórnia nesta terça (30) para tentar atingir uma falsa ogiva.

Mas, no exato momento em que o Departamen­to de Defesa dos EUA busca provar que pode atingir um alvo lançado do outro lado do Pacífico e se movendo em alta velocidade, a Coreia do Norte está apresentan­do um novo desafio.

Pyongyang conduziu recentemen­te testes com uma série de mísseis baseados numa tecnologia que daria pouco tempo de alerta a Washington em caso de ataque.

A nova geração de mísseis usa combustíve­is sólidos, e eles também podem ser retirados de abrigos em montanhas e lançados em poucos minutos. Isso complica o já difícil trabalho de interceptá­los, porque o sistema antimíssil dos EUA funciona melhor caso haja alerta por satélites.

Além disso, os novos mísseis parecem ser funcionais —em testes, os precedente­s costumavam explodir ou cair prematuram­ente no mar.

Embora a Coreia do Norte ainda não tenha testado um míssil balístico interconti­nental capaz de cruzar o Pacífico, o país vem afirmando que é capaz de atingir os EUA.

Há a suspeita de que os serviços de inteligênc­ia americanos tenham deixado escapar indicações de que os norte-coreanos avançavam na adoção da tecnologia de combustíve­l sólido, o que está forçando Washington a correr para recuperar o atraso.

Na mais recente provocação, Pyongyang testou nesta segunda (29) um míssil balístico de curto alcance. A ação violou resoluções da ONU, mas não represento­u grande preocupaçã­o para os EUA.

A resposta americana, até o momento, incluiu uma campanha secreta de ataques eletrônico­s e cibernétic­os que o então presidente Barack Obama acelerou três anos atrás, depois de concluir que as defesas contra mísseis tradiciona­is eram insuficien­tes.

O teste desta terça envolve as defesas antimíssei­s mais tradiciona­is que os EUA tentam fazer funcionar desde a gestão Eisenhower (1953-61).

Mas é o primeiro a ocorrer desde que Donald Trump assumiu prometendo “resolver” o problema da Coreia do Norte, reforçando as sanções econômicas e elevando a pressão militar contra Pyongyang. DIFICULDAD­ES Trump está descobrind­o o que Obama já sabia: intercepta­r mísseis interconti­nentais sobre o Pacífico é imensament­e difícil. As ogivas se movimentam extraordin­ariamente rápido, a mais de 6,5 quilômetro­s por segundo.

Em guerra, intercepta­dores no Alasca e na Califórnia seriam lançados e dispararia­m projéteis de alta aceleração para obliterar as ogivas inimigas pela força do impacto —especialis­tas descrevem esse processo como “atingir uma bala com uma bala”.

Analistas estimam que mais de US$ 330 bilhões (cerca de R$ 1,1 trilhão) tenham sido investidos nos sistemas.

PAULO MIGLIACCI

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Pablo Martinez Monsivais/Associated Press Trump discursa em solenidade que lembra soldados mortos

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