Prefeito quebra o silêncio e promete não recuar em ação anticrack
DE SÃO PAULO
Após quatro dias sem responder a nenhuma pergunta sobre a situação da cracolândia, o prefeito João Doria (PSDB) publicou um vídeo nesta segunda (29) em um canal pessoal de rede social para dizer que não vai recuar em sua política anticrack e enaltecer o governo Geraldo Alckmin (PSDB) pela prisão de traficantes que atuavam em meio aos usuários de drogas.
O prefeito tem se recusado a falar sobre o tema com os jornalistas desde quinta (25). Em eventos públicos, quando questionado sobre o assunto, ele sempre delega as respostas a algum secretário. O tucano tem sido alvo de críticas de órgãos como o Ministério Público e a Defensoria Pública.
“Nós não vamos recuar. Não vamos abandonar nossa ação contra os traficantes, contra os bandidos”, afirmou Doria, no vídeo, numa referência à operação estadual há nove dias na cracolândia.
A ação naquele domingo (21) foi arquitetada pela Polí- cia Civil e executada em parceria com a Polícia Militar.
Apenas poucos secretários de Doria foram avisados da operação, sendo que os responsáveis pela área da saúde e assistência social só ficaram sabendo um dia antes.
Naquele dia, o plano anticrack de Doria não estava pronto. Com ações atabalhoadas e discursos dissonantes, o que se viu em seguida foram viciados espalhados e a formação de uma nova cracolândia na praça Princesa Isabel, com 600 dependentes, a 400 metros da original.
No vídeo, Doria volta a afirmar que a cracolândia acabou “fisicamente”. “Alguém pode dizer: ‘não, espalharam-se pela cidade’. Nós já tínhamos várias cracolândias pela cidade, e vamos agir sobre todas elas no momento oportuno.”
O tucano afirmou que, em ocasiões anteriores, houve recuos pela pressão de “setores da sociedade civil, segmentos ideológicos ou partidarizados, que querem intimidar no grito e na força a ação pública”.
No período citado por Doria, o Estado, responsável pela ação policial e por um programa anticrack chamado Recomeço, sempre esteve sob o comando de seu partido, o PSDB. Na prefeitura, houve gestões de PT, PSDB e PSD. Procurada, a assessoria de Alckmin não comentou.
No vídeo, Doria falou também sobre internações compulsórias. “Poderá, assim que a Justiça permitir, haver a internação [à força]. Mas a palavra não é internação e muito menos compulsória, é um internamento. É o oferecer a essas pessoas a chance da vida, e não preservar a chance da morte”, disse. (ARTUR RODRIGUES)