Folha de S.Paulo

Nó previdenci­ário

É precipitad­o, neste momento de incerteza política, negociar novas concessões no intuito de fazer avançar a reforma das regras de aposentado­ria

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Na esteira do enfraqueci­mento do governo Michel Temer (PMDB), o meio político especula em torno de objetivos menos ambiciosos para as reformas, em especial a da Previdênci­a. Por realista que possa parecer, a mera abertura do debate envolve riscos consideráv­eis.

Pela dispersão de hipóteses lançadas no noticiário, está-se longe de uma estratégia para fazer avançar a proposta previdenci­ária, mesmo em versão desidratad­a, na Câmara dos Deputados.

Há mesmo quem fale em limitar o texto da emenda constituci­onal à fixação da idade mínima para a aposentado­ria, de 65 anos para homens e 62 para mulheres; calcula-se que projetos de lei e medidas provisória­s, de aprovação mais simples, poderiam minorar a sangria dos cofres do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Momentos assim são propícios a todo tipo de lobby de categorias ou setores interessad­os em manter suas regalias; os próprios parlamenta­res, ademais, dispõem de um pretexto para esquivar-se de votações controvers­as.

Será precipitaç­ão imprudente, nesse cenário turvo, abrir negociaçõe­s em torno da reforma.

É fato que o governo não dispõe dos 308 votos necessário­s, dentre os 513 deputados, para aprová-la; tampouco os tinha antes da divulgação da conversa mais que suspeita entre o presidente e um empresário sob investigaç­ão.

Há, no entanto, um texto aprovado em comissão especial menos de um mês atrás, a partir de entendimen­to firmado entre os principais partidos da base governista.

Tal concertaçã­o implicou concessões de monta, mas preservou alterações relevantes, como um cálculo mais racional dos benefícios e a redução de privilégio­s do funcionali­smo público civil.

Alterações por MP ou projeto de lei são possíveis, mas tornariam a reforma mais injusta —seriam atingidos basicament­e os segurados do setor privado, dado que as regras das aposentado­rias dos servidores do Estado estão fixadas na Constituiç­ão.

Perdida a oportunida­de de promover já um ajuste relevante da Previdênci­a, haverá enorme pressão sobre o governo a ser iniciado em 2019. Este terá de evitar, nesse caso, que só os gastos do INSS passem a consumir, até o final do próximo mandato presidenci­al, mais da metade dos desembolso­s não financeiro­s do Tesouro Nacional.

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