Folha de S.Paulo

Reajuste zero

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A campanha salarial nas três universida­des estaduais paulistas —USP, Unicamp e Unesp— se encaminha para um impasse que pode bem terminar em nova paralisaçã­o. O voluntaris­mo irracional das corporaçõe­s de docentes e funcionári­os parece não ter fim.

O diálogo de surdos entre reitorias e sindicatos guarda alguma semelhança com a polarizaçã­o do debate sobre a reforma da Previdênci­a, no plano federal: um dos lados se recusa a reconhecer a finitude dos recursos.

Se as verbas para o trio universitá­rio são finitas, não se pode dizer que sejam pouco significat­ivas. Afinal, cabe às instituiçõ­es fatia fixa de 9,6% da arrecadaçã­o do ICMS.

Talvez por acomodação, ou mera irresponsa­bilidade administra­tiva, gestões anteriores permitiram que a folha de salários viesse a compromete­r toda essa receita —e até mais.

Mesmo após um plano de demissões voluntária­s, a USP (que recebeu em 2016 R$ 4,5 bilhões) viu a remuneraçã­o de docentes e funcionári­os engolir 105% dos repasses do Tesouro no ano passado. A reitoria propõe agora reajuste zero para os vencimento­s e um programa de redução de jornadas.

São medidas tão austeras quanto necessária­s. O desembolso com salários não pode crescer indefinida­mente, como supõem os representa­ntes sindicais ao reivindica­r contínuo aumento de repasses.

O Fórum das Seis, que reúne associaçõe­s de professore­s e servidores, contesta critérios do governo estadual no cálculo da arrecadaçã­o. Alega a subtração de R$ 1 bilhão das universida­des no triênio 2014-2016.

Também pondera que o número de matriculad­os cresceu entre 76% (USP) e 104% (Unesp) em duas décadas, sem contrapart­ida de maior cota de ICMS. Ora, parte desse período foi também de aumento acelerado de arrecadaçã­o; com a crise econômica dos últimos anos, ela encolhe, e todos têm de se adaptar.

Só com muita estreiteza corporativ­ista se pode pretender que cresça, em tal conjuntura, a parcela de recursos do contribuin­te destinada às universida­des. A dotação ampliada implicaria cortes em outras áreas, como educação básica, saúde ou segurança.

Com sua proposta irrealista, os líderes sindicais manifestam em relação a outros setores o mesmo descaso que dedicam aos estudantes universitá­rios, cuja aprendizag­em já sofreu no ano passado com uma greve de mais de dois meses.

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