Folha de S.Paulo

Caso de polícia

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BRASÍLIA - O governo Michel Temer se tornou oficialmen­te um caso de polícia. O Supremo Tribunal Federal autorizou que o presidente seja interrogad­o pela PF. Ele terá 24 horas para se manifestar, por escrito, no inquérito em que é investigad­o sob suspeita de corrupção.

A decisão do ministro Edson Fachin impôs ao menos três derrotas ao Planalto. A defesa de Temer queria suspender o depoimento, empurrar o caso para outro relator e livrar o presidente da companhia de Rodrigo Rocha Loures, o deputado da mala.

Os três pedidos foram negados por Fachin. Além disso, o ministro criou um quarto problema para Temer. Ele determinou que a PF conclua o inquérito no prazo de dez dias. É o que a lei determina quando um dos investigad­os cumpre prisão preventiva.

O presidente obteve uma única vitória: seu caso foi separado do inquérito sobre Aécio Neves. Temer se livrou do tucano, mas seu destino continua vinculado ao de Rocha Loures. Se o homem de R$ 500 mil for convencido a delatar o chefe, a sobrevivên­cia do governo tende a se reduzir a uma questão de horas.

O risco-delação levou o Planalto a passar outro vexame. Magoado com a dispensa do Ministério da Justiça, o peemedebis­ta Osmar Serraglio recusou a pasta da Transparên­cia. Seu retorno à Câmara lançou o governo numa corrida para evitar que Loures perca a cadeira e o foro privilegia­do.

Para desarmar a bomba-relógio, Temer passou a oferecer cargo de ministério a qualquer deputado do PMDB do Paraná. O líder do partido farejou a oportunida­de e pediu mais alto. Avisou que não tem interesse na Transparên­cia, mas topa ficar com o maltratado Ministério da Cultura.

Cada vez mais frágil, Temer começa a repetir cenas da agonia de Dilma Rousseff. No desespero para se manter na cadeira, a então presidente se tornou presa fácil da chantagem parlamenta­r. No fim do governo, os deputados do PMDB chegaram a abocanhar o Ministério da Saúde antes de abandoná-la.

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