Folha de S.Paulo

Cunha e Loures querem anular a delação da JBS

- MARIO CESAR CARVALHO ESTELITA HASS CARAZZAI

O ex-deputado Eduardo Cunha e o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) querem que o Supremo anule a delação de Joesley Batista, da JBS.

O advogado de Cunha, Rodrigo Sanches Rios, já ingressou com o pedido. O de Loures, Cezar Bitencourt, diz que entrará com a medida até sexta (2).

A defesa de Cunha afirma que o acordo desrespeit­ou o princípio constituci­onal de proporcion­alidade e um artigo da lei que regulament­ou os acordos de delação em 2013:

Primeiro, porque iria contra o critério de proporção ao deixar de estipular algum tipo de punição para um criminoso que confessou ter comprado 1.829 políticos, com gasto de R$ 500 milhões em propinas.

Além disso, a lei proibiria que a Procurador­ia Geral da República deixe de acusar um colaborado­r se ele for o líder da organizaçã­o criminosa.

Como Joesley assumiu que liderava o processo de pagamento de suborno a parlamenta­res, ele poderia ter benefícios, mas não poderia se livrar integralme­nte dos atos de corrupção que praticou, no entendimen­to de Rios.

O advogado de Loures tem a mesma posição: “Quem comprou os políticos todos? Quem tinha o poderio econômico? O chefe da quadrilha é o Joesley”.

O advogado de Cunha critica a falta de proporção entre os relatos de suborno e os benefícios concedidos: “Não tem a menor razoabilid­ade, tampouco proporcion­alidade, esse grupo de delatores se beneficiar com tamanha generosida­de, ante a quantidade e complexida­de dos supostos crimes apresentad­os”.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, defendeu em artigo na Folha os benefícios concedidos no acordo com o argumento de que foi o preço a ser pago para se romper o círculo da corrupção.

A defesa de Cunha pede também que o Supremo revogue o novo decreto de prisão contra o ex-deputado, decidido pelo ministro Edson Fachin a partir da delação da JBS.

Janot pedira que Cunha e o operador e doleiro Lucio Funaro fossem transferid­os para um presídio de segurança máxima porque teriam continuado a praticar crimes mesmo na cadeia. O Supremo decretou uma nova prisão, mas não acatou o pedido para mandá-los para um presídio de segurança máxima.

O pedido de revogação de prisão aponta que não há provas de que Joesley tenha pago propina a Cunha para que ele se mantivesse em silêncio e evitasse a delação. Para Rios, só há provas da entrega de R$ 400 mil para a irmão de Funaro, Roberta, presa no último dia 18, após receber uma mala de Ricardo Loures, lobista da JBS.

Preso em outubro do ano passado por ordem do juiz Sergio Moro, Cunha foi condenado a 15 anos de prisão sob acusação de ter recebido US$ 1,5 milhão após a Petrobras ter comprado parte de um campo de petróleo no Benin. O repasse teria ocorrido em 2011, quando era deputado e o PMDB controlava a diretoria internacio­nal da Petrobras.

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