Folha de S.Paulo

Executivo delata ex-assessor de Temer por obra em estádio

Funcionári­o da Andrade diz que Filippelli cobrou por reforma no Mané Garrincha

- RUBENS VALENTE

Assessor especial do presidente Michel Temer até a semana passada, quando foi preso pela Operação Panatenaic­o, o ex-vice-governador do Distrito Federal Tadeu Filippelli (PMDB) teria cobrado pessoalmen­te pagamento de propina relativa à obra do estádio Mané Garrincha para a Copa de 2014, que estava em atraso.

A afirmação partiu de Carlos José de Souza, um dos executivos da empreiteir­a Andrade Gutierrez que fechou acordo de leniência com a Procurador­ia da República no DF. O acerto foi homologado pelo juiz federal Vallisney de Souza Oliveira.

O depoimento foi prestado no dia 26 de abril. Deflagrada no último dia 23, a Panatenaic­o levou à prisão Filippelli e mais nove pessoas, entre as quais dois ex-governador­es do DF, Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (ex-DEM).

Até a semana passada, Filippelli despachava no Palácio do Planalto. Ele foi exonerado horas depois da prisão.

Funcionári­o da Andrade desde 1985, Carlos Souza foi indicado pela empreiteir­a, em 2008, como o responsáve­l por estudos técnicos da obra do estádio. A empreiteir­a acertou que atuaria em consórcio com a construtor­a Via Engenharia.

As obras começaram em 2011, já no governo Agnelo. Nessa época, segundo Souza, ele recebeu a orientação de seus superiores na empresa de que a propina seria de 4%, calculados sobre o valor recebido pela Andrade, dos quais 3% para o PT, “na pessoa de Agnelo”, e 1% para o PMDB, “na pessoa de Filippelli”.

Sobre o PMDB, Souza disse que o “pagamento de propina” foi feito “por meio de doações de campanha”. Porém, entre “2012 e 2013”, afirmou ter sido chamado por Filippelli em sua residência para ouvir a reclamação de “ausência de pagamento da propina acertada no montante de 1%”.

Na conversa, segundo o colaborado­r, Filippelli disse que havia “acertado” com a Via Engenharia e instou a Andrade a “depois resolver essa questão junto à Via”.

Segundo os executivos da empreiteir­a que firmaram acordo de delação, o “operador” de Filippelli era Afrânio Roberto de Souza Filho, que na gestão Arruda ocupou cargos comissiona­dos.

A Folha apurou que a Andrade entregou aos investigad­ores uma tabela em que estariam registros de mais de R$ 20 milhões em espécie em pagamentos a Afrânio entre os anos de 2013 e 2014. OUTRO LADO O advogado de Filippelli, Alexandre Queiroz, afirmou que não iria se manifestar. A Via Engenharia informou que “ainda analisa o teor da delação”. Os advogados de Agnelo, Arruda e Afrânio não foram localizado­s.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil