Folha de S.Paulo

Estrutura fixa de apoio ‘oficializa’ praça como nova cracolândi­a de SP

Prefeitura criará abrigo e colocará contêinere­s para atendiment­o de usuários na Princesa Isabel

- ARTUR RODRIGUES LEANDRO MACHADO

Local foi ocupado por dependente­s de drogas após operação policial na antiga cracolândi­a do centro de São Paulo

A gestão do prefeito João Doria (PSDB) já dá como certo que o novo endereço da cracolândi­a no centro de São Paulo, na praça Princesa Isabel, não é mais temporário.

Ao menos 600 usuários de drogas migraram para o local após operação policial há dez dias, que prendeu traficante­s e desobstrui­u vias usadas para uma feira ilícita livre, a cerca de 400 metros dali.

A gestão Doria tem planos para a antiga cracolândi­a, que terá demolição de construçõe­s e um projeto urbanístic­o específico. Para a praça, por enquanto, a ideia é montar uma estrutura de atendiment­o aos viciados que se estabelece­ram ali.

Em um prédio da prefeitura ao lado da praça, por exemplo, funcionará um centro de acolhiment­o. Próximo dali, até o fim da semana, também serão instalados 25 contêinere­s com banheiros, chuveiros, refeitório e espaço para atendiment­o de usuários.

Nos últimos dias, a presença da polícia cresceu em volta do local, cercando o “fluxo” —área com consumo e tráfico de drogas a céu aberto.

Quando os viciados entraram na área, duas bases da Polícia Militar cuidavam do entorno. Na tarde desta terça (30), porém, havia ao menos mais cinco carros da PM, além de um ônibus da GCM (Guarda Civil Metropolit­ana).

Dentro do fluxo, usuários ergueram dezenas de barracas de lona, cenário semelhante ao da antiga cracolândi­a. Em uma delas havia a inscrição da facção criminosa PCC, que comandava o tráfico de drogas na região.

Na praça, agentes de saúde municipal circulam com objetivo de fazer o cadastrame­nto dos usuários de crack.

Enquanto isso, o comércio da região teme as consequênc­ias da nova cracolândi­a. “O movimento caiu pela metade. Nosso movimento é muito de famílias, que ficam com medo”, diz Leonice Zatti, 47, dona de uma churrascar­ia em frente à Princesa Isabel.

Enquanto a Folha conversava com ela, um usuário entrou no comércio e passou a oferecer desodorant­es spray para vender aos fregueses. “Antes a cracolândi­a estava aí, mas ficava escondido. Agora, está aí na frente”, diz ela.

Outros comerciant­es relataram que a clientela, formada em geral por pessoas a caminho do terminal de ônibus no canto da praça, agora têm preferido pegar a condução em paradas nos arredores.

A prefeitura, agora, não conta mais com a possibilid­ade remover usuários de drogas à força para avaliação médica. O pedido foi vetado no Tribunal de Justiça, com extinção do processo nesta terça-feira (30). Ainda cabe recurso, mas a prefeitura aposta suas fichas nas entrevista­s com os usuários e no convencime­nto para que sejam encaminhad­os para atendiment­o ambulatori­al ou internação. LEITOS A prefeitura e o governo do Estado anunciaram nesta terça uma parceria para integração de leitos psiquiátri­cos em todo o Estado. As duas gestões anunciaram um comitê formado por médicos municipais e estaduais para tratar da crise na cracolândi­a.

Ronaldo Lajeira, coordenado­r do Recomeço, programa estadual de tratamento de dependente­s, anunciou que mais leitos contratado­s pelo governo do Estado em mais de 50 cidades estarão disponívei­s para tratamento de usuários.

Ao todo, a gestão Geraldo Alckmin tem 3.000 leitos — 90% deles estão ocupados. Segundo Laranjeira, o restante poderia ser ocupados por possíveis egressos da cracolândi­a do centro de SP.

A prefeitura também terá mais 270 leitos, distribuíd­os em três hospitais na capital.

“A ideia é ter uma integração dos dois programas [Recomeço, do governo, e Redenção, da prefeitura]”, disse o médico Artur Guerra, novo coordenado­r do Redenção.

Guerra afirmou que até esta quinta-feira (1º) o comitê vai anunciar um protocolo que vai orientar o atendiment­o aos dependente­s químicos da área.

“As pessoas precisam entender os critérios que vão definir quando uma pessoa poderá ser internada”, disse o médico psiquiatra. “São critérios dentro da lei.”

Segundo ele, atualmente há nove equipes multidisci­plinares que atuam na área. Cada uma tem nove pessoas: um médico, um psicólogo, um agente social, um enfermeiro e cinco agentes de saúde. E MARLENE BERGAMO)

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Usuários de drogas se concentram em frente a barracas com a sigla da facção criminosa PCC, na praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo

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