Folha de S.Paulo

Unicamp aprova cotas raciais e de ensino público a partir de 2019

Medida aumentará representa­tividade da população; política anterior era modelo de bônus

- PAULO SALDAÑA

Em SP, 80% dos alunos do ensino médio estão na rede pública; 37,5% do Estado são pretos, pardos e indígenas

A Unicamp (Universida­de Estadual de Campinas) aprovou nesta terça-feira (30) a adoção de sistema de cotas para estudantes de escolas públicas, pretos, pardos e indígenas. A política passa a valer no vestibular de 2019.

A proposta partiu da reitoria e foi aprovada em reunião do Conselho Universitá­rio, órgão máximo da instituiçã­o. O formato será discutido por um grupo de trabalho até novembro deste ano.

O plano deve prever a meta de 50% de estudantes oriundos da rede pública, por curso e turno, e buscar a meta de 37,5% de autodeclar­ados PPI (pretos, pardos e indígenas), segundo registrado no IBGE no Estado de São Paulo. Com relação à meta de PPI, o projeto da Unicamp é mais arrojado que a Lei de Cotas das universida­des federais.

A lei, de 2012, prevê que o percentual de PPI do esteja vinculado ao total de vagas reservadas (calculado sobre 50%, no caso). Na Unicamp, essa meta estará vinculada ao total de alunos. O atendiment­o a esse critério deverá ser gradual.

“A sociedade deve estar representa­da em uma universida­de pública”, disse o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel. “Essa diversidad­e é algo com o qual a universida­de só tende a ganhar e a crescer.”

Em São Paulo, mais de 80% dos estudantes do ensino médio estão em unidades públicas. A maioria na rede estadual.

Knobel ressalta que diversos estudos realizados pelo país, e também na Unicamp, mostram que ingressant­es de cotas têm desempenho acadêmico equivalent­e e até superior ao dos alunos aprovados nos mecanismos tradiciona­is. “O mecanismo do acesso não será a única mudança, teremos um programa

MARCELO KNOBEL

Reitor da Unicamp de permanênci­a estudantil e acompanham­ento e desenvolvi­mento dos alunos”. Critérios de renda também podem ser levados em conta.

O modelo de ingresso, segundo o reitor, pode aliar o atual mecanismo de bonificaçã­o já adotado pela universida­de à adoção de ingresso também por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que usa a nota do Enem. A instituiçã­o tem desde 2004 o Paais (Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social), que concede bônus a alunos de escolas públicas e PPI.

Em 2017, alcançou uma marca histórica: 50,3% dos matriculad­os eram de escolas da rede pública. O percentual de PPI foi de 22%.

O próprio reitor pondera, entretanto, que nem todos os cursos registrara­m o mesmo nível de inclusão —o que deve ser combatido com o novo formato.

Entre as três universida­de estaduais, a Unesp (Universida­de Estadual Paulista) foi a primeira a definir metas fixas de reserva de vagas, em 2014. No vestibular deste ano, a instituiçã­o já atingiu mais de 50% dos estudantes de escolas públicas, sendo que, destes, 36,7% são pretos, pardos e indígenas.

Este resultado já superou a meta estipulada para 2018. A instituiçã­o esperava no mínimo 45% de alunos de escola pública neste ano.

Já a USP (Universida­de de São Paulo) também registrou alta na inclusão neste ano, mas não atingiu sua própria meta. A instituiçã­o também planeja mudanças para melhorar os indicadore­s.

Dos 10.994 matriculad­os, 4.036 são oriundos de escola pública. O número significa 36,7% desse total —a meta era chegar a 39% neste ano. Do total de matrículas, 19,3% são autodeclar­ados PPI.

A sociedade deve estar representa­da em uma universida­de pública Essa diversidad­e é algo com o qual a universida­de só tende a ganhar e a crescer

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