Folha de S.Paulo

ANÁLISE Flip vai às margens com nomes menos conhecidos

- MAURICIO MEIRELES

A programaçã­o da próxima edição da Flip mostra uma festa literária diferente dos outros anos. Em vez de se ancorar em grandes estrelas internacio­nais, a curadoria desta vez traz autores menos conhecidos no país e uma profusão de pequenas editoras.

Entre os convidados, estão dois ganhadores do Man Booker Prize: Marlon James e Paul Beatty.

A literatura anglo-americana e os autores consolidad­os no mercado falante do idioma, que costumam estar no centro das atenções, terão menos espaço. Só quatro convidados escrevem nessa língua: além dos ganhadores do Booker, a sul-africana Deborah Levy, e o americano William Finnegan, jornalista ganhador do Pulitzer ano passado.

Assim, a curadoria aposta em nomes pouco conhecidos no país, como a chilena Diamela Eltit, a ruandesa Scholastiq­ue Mukasonga e o islandês Sjón. É como se a Flip tivesse renunciado a um lado mais comercial da vida literária.

O perfil das editoras também mudou. A Companhia das Letras, que costuma liderar no número de convidados e pautar os grandes debates, continua na frente, mas perdeu protagonis­mo.

Outro destaque é a busca por diversidad­e, ponto em que costumava receber críticas. Assim, é possível esperar uma Flip feminina e negra. Pela primeira vez, o número de mulheres convidadas ultrapassa o de homens: elas são 24 — eles são 22. Além disso, 30% dos convidados são negros.

A programaçã­o se relaciona à trajetória de Lima Barreto, o homenagead­o. O autor não teve reconhecim­ento em vida, não só por ter produzido uma literatura contra o establishm­ent da época, mas também pelo racismo. Ele também se dedicou a representa­r os tipos marginais da sociedade.

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