Folha de S.Paulo

CRÍTICA Rincon Sapiência quer se fazer entender

No recém-lançado ‘Galanga Livre’, rapper se expressa com irreverênc­ia e acidez em versos curtos

- MAURÍCIO AMENDOLA

FOLHA

Quando Rincon Sapiência divulgou “Ponta de Lança (Verso Livre)” nos últimos dias de 2016, talvez não imaginasse como a faixa —já uma das mais memoráveis do rap nacional na década— impulsiona­ria a expectativ­a sobre seu álbum de estreia.

Respeitado no cenário independen­te desde os anos 2000, o rapper viu seu prestígio alavancar perante o público com a canção que coloca elementos do funk carioca no rap com rara competênci­a, enquanto ele desfere versos nada descartáve­is.

Em “Galanga Livre”, o artista da zona leste de São Paulo prova —como sugeriu a ousada e certeira “Ponta de Lança”, última do disco— que está longe de ser um MC convencion­al. Em meio à onipresenç­a atual do trap, aqui e lá fora, Rincon rima ao som de produções baseadas em guitarra (“Vida Longa”), baterias no contratemp­o, quando não batucadas de Carnaval (“Meu Bloco”), pianos Rhodes e berimbau (“A Coisa Tá Preta”).

Enquanto pelo rap nacional há uma tendência algo entediante do chamado “speed flow” —rimar o mais rápido que se puder—, Rincon ostenta versos curtos, atento a rimas internas e multisiláb­icas, guiado por flow moderado. É um MC que, de fato, quer ser entendido.

O rapper Rincon Sapiência

A grande mensagem do álbum é a afirmação da negritude e, embora o título faça menção à história do escravo Galanga, que matou seu senhor de engenho, o tom geral do trabalho não é a agressivid­ade típica do rap.

O apelidado Manicongo se expressa com irreverênc­ia e acidez, além de uma vaidade saudável e até divertida, mas não menos potente e política. Ele diz: seu verso é livre, como Mandela saindo da cela, e quente, mas não como as chapinhas nos cabelos crespos.

As letras de Rincon perpassam outras experiênci­as sociais por meio de sua experiênci­a como homem negro.

Em “Vida Longa”, depois de lamentar que Bolsonaro não é tipo raro, ele conclui que valores atuais estão iguais aos pés do curupira. Na sequência, em “A Volta pra Casa”, um dos destaques do disco, homenageia os trabalhado­res e suas longas jornadas. Presente

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Renato Stockler/Divulgação

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