CRÍTICA Rincon Sapiência quer se fazer entender
No recém-lançado ‘Galanga Livre’, rapper se expressa com irreverência e acidez em versos curtos
FOLHA
Quando Rincon Sapiência divulgou “Ponta de Lança (Verso Livre)” nos últimos dias de 2016, talvez não imaginasse como a faixa —já uma das mais memoráveis do rap nacional na década— impulsionaria a expectativa sobre seu álbum de estreia.
Respeitado no cenário independente desde os anos 2000, o rapper viu seu prestígio alavancar perante o público com a canção que coloca elementos do funk carioca no rap com rara competência, enquanto ele desfere versos nada descartáveis.
Em “Galanga Livre”, o artista da zona leste de São Paulo prova —como sugeriu a ousada e certeira “Ponta de Lança”, última do disco— que está longe de ser um MC convencional. Em meio à onipresença atual do trap, aqui e lá fora, Rincon rima ao som de produções baseadas em guitarra (“Vida Longa”), baterias no contratempo, quando não batucadas de Carnaval (“Meu Bloco”), pianos Rhodes e berimbau (“A Coisa Tá Preta”).
Enquanto pelo rap nacional há uma tendência algo entediante do chamado “speed flow” —rimar o mais rápido que se puder—, Rincon ostenta versos curtos, atento a rimas internas e multisilábicas, guiado por flow moderado. É um MC que, de fato, quer ser entendido.
O rapper Rincon Sapiência
A grande mensagem do álbum é a afirmação da negritude e, embora o título faça menção à história do escravo Galanga, que matou seu senhor de engenho, o tom geral do trabalho não é a agressividade típica do rap.
O apelidado Manicongo se expressa com irreverência e acidez, além de uma vaidade saudável e até divertida, mas não menos potente e política. Ele diz: seu verso é livre, como Mandela saindo da cela, e quente, mas não como as chapinhas nos cabelos crespos.
As letras de Rincon perpassam outras experiências sociais por meio de sua experiência como homem negro.
Em “Vida Longa”, depois de lamentar que Bolsonaro não é tipo raro, ele conclui que valores atuais estão iguais aos pés do curupira. Na sequência, em “A Volta pra Casa”, um dos destaques do disco, homenageia os trabalhadores e suas longas jornadas. Presente