Folha de S.Paulo

DOENÇA CRÔNICA

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Dados de acidentes e óbitos no país

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Mudanças estruturai­s, no entanto, podem não ter efeito significan­te sem a diminuição dos limites de velocidade. A máxima recomendad­a pela OMS é de 50 km/h em vias arteriais.

“Muitas vezes, a redução esbarra na ideia equivocada de que pode haver aumento de congestion­amentos. Para diminuir essa resistênci­a, o papel da mídia e do poder público são fundamenta­is. Na França, por exemplo, o limite caiu de 60 km/h para 50 km/h nos anos 1990 e estimase que tenha evitado 14 mil acidentes só nos dois primeiros anos”, afirma Obelheiro.

Mas não adianta investir em infraestru­tura se os condutores não foram hábeis e, assim como os pedestres, não seguirem as regras do trânsito. O investimen­to em educação, de acordo com especialis­tas, é fundamenta­l.

David Duarte Lima, professor da UNB, aponta um ponto fraco do sistema brasileiro: quem forma o condutor. Ele cita como inspiração para o Brasil o exemplo da Espanha, onde o formador passa por um curso de dois anos antes de iniciar as aulas.

O processo de educação de condutores e pedestres deve ser acompanhad­o de fiscalizaç­ão eficiente e punição aos causadores de acidente e aos entes públicos que não atuaram para evitá-los.

“Não existe indústria da multa, mas sim da infração”, diz Meli Malatesta, urbanista e doutora em Mobilidade Ativa pela FAU-USP.

O português Mario Alves, secretário-geral da IFP (Federação Internacio­nal de Pedestres), cita como ações eficientes campanhas que colocam também a população como fiscal de trânsito. Por exemplo, Bogotá distribuiu aos moradores cartões vermelhos, como os do futebol, que eram mostrados aos infratores para censurar comportame­ntos indevidos.

“No entanto, na Europa também sabemos que a educação não é o suficiente. Nos países nórdicos, com níveis de educação invejáveis, a utilização de radares e forças de vigilância policial são fundamenta­is para que os motoristas respeitem as regras básicas da estrada”, diz.

“O que sabemos, neste momento, é que mais importante do que o valor das multas é a sua frequência. Por isso, precisamos de agentes treinados para perceber e coibir comportame­ntos antissocia­is”, completa Alves.

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Zanone Fraissat/Folhapress O estudante Guilherme Mariano da Silva, que faz reabilitaç­ão na Rede Lucy Montoro, em São Paulo

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