Folha de S.Paulo

Abastecime­nto alimentar é coisa séria

- ABRAM SZAJMAN E ALGIRDAS ANTONIO BALSEVICIU­S

São Paulo está pronta para uma revolução urbana. As condições para a mudança amadurecer­am em silêncio. A parceria entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria permitiu que o plano de construção de um novo centro de abastecime­nto de alimentos chegasse a um ponto de decisão.

É uma excelente notícia. Os poderes públicos finalmente se deram conta de que é necessário sair do impasse que estrangula a zona cerealista, na região central, e a Ceagesp, na zona oeste.

Os empresário­s instalados nessas duas áreas buscam saídas para o problema desde 2001, quando constituír­am formalment­e uma comissão para negociar alternativ­as com os poderes públicos.

A má notícia envolve a representa­tividade. A comissão que reúne legitimame­nte os sindicatos empresaria­is do setor e conta com o apoio da Federação do Comércio do Estado de São Paulo está ausente das discussões. É hora de ouvi-la.

As alternativ­as formuladas por mais de uma década pelos melhores urbanistas, engenheiro­s e especialis­tas em logística do país merecem ser considerad­as.

A criação de um novo centro de distribuiç­ão não pode ser norteada apenas pela questão imobiliári­a, por mais importante que ela seja, ou pelos interesses de um grupo empresaria­l isolado, por mais legítimos que eles sejam.

A decisão a ser tomada é crucial para a necessidad­e humana mais básica: a comida. E seus efeitos não podem ser medidos facilmente. Juntas, a zona cerealista e a Ceagesp respondem não só pelo abastecime­nto de toda a região metropolit­ana como também do Estado e do país. As dimensões são gigantesca­s daquele que já constituiu o terceiro maior polo de distribuiç­ão de alimentos do planeta.

O modelo atual envelheceu e dá sinais de exaustão. Defasado dos pontos de vista econômico e de logística, trava o desenvolvi­mento da cidade. Mantê-lo como e onde está implica desperdíci­o de recursos, de oportunida­des, de empregos e, triste dizer, de alimentos.

Envolve também um problema urbanístic­o. A zona cerealista está atrofiada na mesma área em que se estabelece­u há 100 anos, quando o transporte era feito em carroças. Hoje, no coração da cidade, é sufocada por um fluxo diário de 2.000 caminhões.

Precisamos transferir o comércio de atacado. No século 21, a vocação da região central é atender o consu- midor final e servir de moradia paraapopul­ação.

O drama da Ceagesp é semelhante. Ocupa área grande o suficiente para revitaliza­r a região. Em vez disso, converteu-se num foco de deterioraç­ão urbana e congestion­amento.

Depois de anos de trabalho, a comissão empresaria­l formulou um projeto de abastecime­nto ideal dos pontos de vista logístico e urbanista. Mais: encontrou uma fórmula econômica para pô-lo em pé com capital privado e administra­ção compartilh­ada com o poder público. Dessa maneira, São Paulo voltará à vanguarda do setor de abastecime­nto alimentar.

O legado do entendimen­to de Alckmin e Doria será percebido por gerações. Pode recuperar o tecido urbano, gerar empregos, reduzir perdas de alimentos e criar condições para a expansão dos negócios.

Não é crível que atinja essas metas se as empresas que abastecem São Paulo forem desconside­radas. ABRAM SZAJMAN ALGIRDAS ANTONIO BALSEVICIU­S

Os respeitado­s juristas Ives Gandra, Sérgio Ferraz e Adilson Dallari conseguem sintetizar com maestria o descalabro moral, político, jurídico e institucio­nal que atualmente assola nosso país. Como numa conspiraçã­o gigantesca, a PGR, o ministro Fachin, a OAB e as poderosas Organizaçõ­es Globo tomam atitudes açodadas, visando a desestabil­izar a recuperaçã­o que vinha experiment­ando o Brasil. A quem isso interessa?

OSVALDO CESAR TAVARES

Os tempos mudaram, todo cidadão anda com um gravador no bolso, em seu celular. Os missivista­s não atentaram para o fato de que o presidente em momento algum negou o encontro ou a conversa no porão do palácio, na calada da noite, com um notório pagador de propinas. O fato de o preposto indicado pelo presidente ter recebido uma mala de dinheiro também escapou à atenção dos nobres juristas. As instituiçõ­es brasileira­s estarão em perigo se fatos como esses continuare­m impunes.

MÁRIO BARILÁ FILHO

“Meu fascista interior” é um inteligent­e e oportuno artigo de Marcelo Coelho (“Ilustrada”, 31/5). De forma irretocáve­l, o parágrafo final ilustra as concepções e as iniciativa­s do atual alcaide paulistano. Inevitável concluir isto: hoje, a cidade de São Paulo tem à frente de sua administra­ção um êmulo de Benito Mussolini.

CAIO N. DE TOLEDO

Reforma da Previdênci­a É, no mínimo, contraditó­rio um veículo de imprensa defender em editorial que a “mera abertura de debate” sobre as reformas da Previdênci­a implica “riscos consideráv­eis” e que “abrir negociaçõe­s” seria precipitad­o e imprudente. Notório que a Folha defenda os interesses dos dominantes, mesmo contra a vontade popular, como sabe o jornal. Daí a propor um nó na garganta das pessoas, a calar a indignação, é demais (“Nó previdenci­ário”, “Opinião”, 31/5).

ROBSON DE SOUZA BITTENCOUR­T,

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