Folha de S.Paulo

As ruas e as urnas

O Brasil precisa de liberdade para escolher seu futuro, com eleições diretas, um novo governo popular e uma Constituin­te soberana

- JOSÉ DIRCEU www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Em visita recente, o produtor Luiz Carlos Barreto lembrou-me de que o filme “Terra em Transe”, clássico de Glauber Rocha, completa meio século. Não pude deixar de comentar que, novamente, o Brasil está em transe.

A única solução razoável, antes como agora, é uma catarse, uma revolução política, econômica, social e cultural. Não é possível um acordo com quem rasgou o pacto constituci­onal de 1988 e atropelou a soberania popular.

Os golpistas e seus avalistas, ao derrubarem um governo legal e legítimo no intuito de revogar direitos e conquistas históricas do povo brasileiro, puxaram a faca e cometeram crime de alta traição à democracia.

Romperam o fio da história e colocaram em risco nossa soberania. Querem nos reduzir, de novo, à linha auxiliar do império.

A coalizão golpista deu origem a um governo abarrotado de históricos corruptos. Nada disso, porém, importa aos falsos santarrões que incensam a Operação Lava Jato, desde que os usurpadore­s fossem úteis para a aplicação de reformas que destruísse­m o legado petista, a herança trabalhist­a e os êxitos do último processo constituin­te.

Olhando e revisitand­o a história de nosso país, sabemos o que está em jogo: o desmonte do recente e precário Estado de bem-estar soci- al, previsto na Constituiç­ão de 1988 e implementa­do durante as administra­ções de Lula e Dilma Rousseff.

Assalta-se a renda do trabalho para garantir o pagamento de juros exorbitant­es, a ampliação da taxa de lucro das grandes corporaçõe­s e a retomada dos fundos públicos pelas camadas mais ricas.

Os golpistas não hesitaram em sabotar o governo Dilma. Decretaram verdadeiro apagão nos investimen­tos e créditos, ampliando a recessão, levando pânico aos cidadãos e paralisand­o o país.

Tratou-se de um vale-tudo para recuperar o comando do Estado e impor uma agenda rejeitada pelos eleitores desde 2002.

Não se vacilou em pisotear as regras democrátic­as e forjar um arremedo de regime policial, no qual se opera a serviço de objetivos político-ideológico­s.

O Brasil precisa de liberdade para decidir seu futuro, com eleições diretas, um novo governo popular e a convocação de Constituin­te soberana. É vital romper a camisa de força do rentismo e da concentraç­ão de riqueza, reformar os sistemas financeiro e tributário. Só assim viabilizar­emos o desenvolvi­mento econômico, social e cultural.

Essa tarefa é histórica e pressupõe superar os limites comprovado­s dos governos petistas —apesar dos avanços reformista­s, ainda não transforma­mos as estruturas de nossa sociedade e do poder político.

Não há espaço para conciliaçã­o. É necessário, para o bem-estar social do país, dar fim à armadilha de uma falsa harmonia nacional e um ludibrioso salvacioni­smo contra a corrupção.

O horizonte das forças populares e de esquerda deve ir além das próximas eleições presidenci­ais, agora ou no ano que vem. Podemos até vencer, mas sem ilusões: sob quaisquer circunstân­cias, nosso norte é o avanço no rumo de uma revolução política e social, democrátic­a.

A meta é lutar, resistir e preparar um governo de amplas reformas. Sob a proteção de um novo pacto constituci­onal, originário das urnas, se a casa-grande voltar ao leito da democracia. Pela força rebelde das ruas, se nossas elites continuare­m de costas para a nação. JOSÉ DIRCEU

Para presidir o Brasil nas atuais circunstân­cias, será necessário respeitar o binômio honestidad­e e malandrage­m (“Temer prestará depoimento por escrito à Polícia Federal”, “Poder”, 31/5). Honestidad­e, coisa quase impossível de achar entre os políticos, para parar de dilapidar o suado dinheiro dos brasileiro­s. Malandrage­m para dobrar a Câmara e o Senado, onde o clamor público é considerad­o doença e só se fazem projetos visando aos interesses próprios. Será que existe alguém com esses atributos?

GERALDO SIFFERT JUNIOR

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Gerais (Belo Horizonte, MG)

Inovação Educativa Em nome do Centro do Professora­do Paulista (CPP), cumpriment­o a Folha pela realização do 2º Fórum de Inovação Educativa. À frente de uma entidade que representa o magistério, reconheço a contribuiç­ão do evento para a valorizaçã­o dos professore­s, sobretudo com relação ao salário. O caderno especial de sábado (27/5) foi assertivo ao concluir que remuneraçã­o digna pode reverter o desprestíg­io da carreira. Essa é a bandeira das entidades da categoria e o apoio da imprensa nesse sentido é imprescind­ível.

JOSÉ MARIA CANCELLIER­O,

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