Folha de S.Paulo

Minha experiênci­a com segurança foi assalto, diz ministro

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Em meio a notícias de que foi nomeado para blindar o governo Michel Temer da Lava Jato, o novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, disse nesta quarta (31) que a operação independe de quem comanda a Polícia Federal e sinalizou que não deve manter o diretor-geral da corporação, Leandro Daiello, no cargo.

“Seja quem for na Operação Lava Jato, na Polícia Federal, no Ministério Público Federal, o programa continuará. Ele não depende de pessoas”, disse o ministro após sua cerimônia de posse.

De acordo com Jardim, a Lava Jato é “um programa de Estado, não de governo”, e, portanto, não depende da atuação de agentes específico­s. Por isso, prosseguiu o ministro, ele vai “conhecer e conversar” com o chefe da PF antes de analisar possíveis mudanças, que podem ocorrer em “dois meses” ou mais.

Daiello, por sua vez, participou da cerimônia de posse do novo titular da Justiça, e, questionad­o pela Folha se sairia ou não do posto, afir- mou: “Não sei. Essa pergunta não é para mim”.

A aliados o diretor-geral da PF diz que não quer passar a impressão à corporação de que está sendo conivente com o governo numa ação de frear a Lava Jato, que investiga Temer e oito de seus ministros. Auxiliares do presidente já começaram a dizer, nos bastidores, que Daiello está desde 2011 no cargo e já manifestou o desejo de sair.

Pelo menos nas duas últimas trocas na Justiça, pasta à qual a Polícia Federal está subordinad­a, Daiello comentou com pessoas próximas que talvez fosse o momento de deixar o posto, o que foi interpreta­do como uma espé-

DE BRASÍLIA

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, reconheceu que tem pouca familiarid­ade com o tema da segurança pública, que integra as responsabi­lidades de sua pasta. Ele disse que sua única experiênci­a com o assunto foi já ter sido assaltado.

“A minha experiênci­a cie de discurso “vacina”, visto que ele não se antecipari­a à decisão dos novos ministros de tirá-lo do cargo.

Jardim, por sua vez, afirmou que uma eventual troca na direção da PF não significar­ia uma freio à Lava Jato e que o tempo de permanênci­a de Daiello à frente da corporação não será considerad­o critério para substitui-lo.

Questionad­o se ele descartari­a, então, mudanças, o ministro foi evasivo e disse que o mundo “não é maniqueíst­a ou personalis­ta”.

Jardim deve viajar na sexta (2) com Daiello a Porto Alegre, para a posse do novo superinten­dente local da PF, e debaterá o tema. “São quatro com segurança pública foi ter duas tias e eu próprio assaltados. Em Brasília e no Rio. Quanto aos mais, eu vou estudar. A pasta é muito grande, ninguém chega lá conhecendo tudo.”

Com o aumento de casos de violência, Temer modificou em fevereiro o nome da pasta para Ministério da Justiça e da Segurança Pública, na tentativa de demonstrar que o tema é prioritári­o. A segurança era uma das principais críticas feitas à gestão de Osmar Serraglio, antecessor do novo ministro. TSE Após a cerimônia, ainda sem ser perguntado, Jardim disse que rebateria questões que haviam aparecido na imprensa desde que seu nome foi anunciado para o ministério, principalm­ente no que diz respeito à influência que poderia ter sobre o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A corte, da qual Jardim fez parte na década 1990, julgará, a partir de 6 de junho a ação que pode cassar a chapa Dilma-Temer.

De acordo com o ministro, se ele tivesse tanto “prestígio” diante dos tribunais superiores, voltaria para a advocacia e não assumiria o Ministério da Justiça.

E seguiu: “Se fosse para fazer alguma coisa nas sombras, eu continuava na Transparên­cia”, disse em referência ao ministério que ocupava antes de chegar à nova pasta. (MARINA DIAS, GUSTAVO URIBE, CAMILA MATTOSO, BRUNO BOGHOSSIAN E DANIEL CARVALHO)

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