Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Após controvérs­ia, Temer registra até reunião de 2 minutos

Criticada por omitir encontro com Joesley, Presidênci­a detalha ao máximo agenda oficial desde início da crise

- FELIPE BÄCHTOLD GUSTAVO URIBE

Programaçã­o diária do presidente aponta agora encontros em horários ‘quebrados’, como 14h18 e 15h52

Em apenas uma hora, reuniões de dois minutos com o presidente da Câmara, de cinco minutos com o ministro da Educação e outros três encontros com ministros e um senador.

Depois da polêmica envolvendo a visita do empresário Joesley Batista ao Palácio do Jaburu, a agenda diária do presidente Michel Temer vem sendo divulgada nos mínimos detalhes.

Nas últimas duas semanas, desde o início da crise que ameaça seu mandato, a lista de compromiss­os diários de Temer veio a público com uma série de encontros em horários “quebrados”, como 12h18 e 15h52, e passou a ser divulgada de modo mais extenso. A Presidênci­a, porém, afirma que nada mudou.

No último dia 19, dois dias depois da revelação da delação da JBS, Temer encontrou Henrique Meirelles (Fazenda) às 11h25, Rodrigo Maia (DEMRJ) às 11h48, Mendonça Filho (Educação) às 11h50 e o general Sérgio Etchegoyen às 11h55. Às 12h18 ainda achou um espaço para receber por sete minutos o senador Romero Jucá (PMDB-RR), presença constante em seu dia a dia.

Compromiss­os à noite passaram a entrar na lista divulgada no site do Planalto, como uma reunião com às 21h40 com Jucá —a Presidênci­a diz que a programaçã­o naquele dia atrasou por causa dos protestos em Brasília.

Um dos pontos mais controvert­idos da delação da JBS foi o fato de o encontro com Joesley Batista ter acontecido no fim da noite, sem que estivesse na agenda oficial.

Temer se justificou, primeiro afirmando que tem o hábito de fazer reuniões até hora avançada e que não havia “nada de mais nisso”. Depois disse que “rigorosame­nte” a conversa com Joesley deveria ter constado na agenda.

Logo depois, porém, compareceu a jantar na casa de Rodrigo Maia, também não informado, mas, posteriorm­ente, incluído na agenda.

Desde que a delação da JBS foi revelada, o peemedebis­ta teve, em média, oito compromiss­os oficiais a cada dia útil, conforme o site do Planalto. Nas semanas anteriores, a média diária era de cinco.

Questionad­a, a assessoria do Planalto diz que as agendas do presidente são atualizada­s ao longo do dia, “conforme surjam audiências”, pedidas por ministros, ou com eventuais mudanças de horário, que também são informadas no site da Presidênci­a.

A obrigatori­edade de dar publicidad­e a compromiss­os e encontros é prevista para ministros, mas não para o presidente, que não é incluído no Código de Conduta Ética da Alta Administra­ção Federal nem na legislação federal sobre conflito de interesses.

A Constituiç­ão prevê o princípio da publicidad­e, mas não aborda as agendas presidenci­ais. A especialis­ta em transparên­cia pública Joara Marchezini, da ONG Artigo 19, entende que não deveria haver agendas secretas. “A agenda do presidente é pública, então, não vejo motivo para não ser divulgada.” Desde o início da crise, há duas semanas, a agenda pública de Temer, no site da Presidênci­a, aparece detalhada ao máximo, como estas à direita

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