Folha de S.Paulo

Agora é a sério

- JANIO DE FREITAS

OS IRMÃOS Marx eram três. Três são os Patetas. Os irmãos Metralha são três. Sucessos sugestivos, entre tantos possíveis, de que o número tem boas relações com o patético e o cômico. Talvez esteja aí a explicação para o sucedido aos selecionad­os de Michel Temer para ministros. No caso, os sucessivos no Ministério da Justiça, que se não chegam a ser um trio são, ao menos, uma trinca.

Secretário de Segurança do governo Alckmin, Alexandre de Moraes vivia seus dias opacos em tranquilid­ade. Oferecida pela atenção intermiten­te e ligeira dada no Estado ao êxito, interno e além divisas e fronteiras, do paulista PCC. Apesar da boa vida, topou passar por ministro da Justiça em uma composição ministeria­l já mal conceituad­a.

Era exposição demais para os fundos de Moraes. Logo a pretendida reputação de constituci­onalista estava rebaixada à condição de plagiário, com a revelação pública de que se apropriou de texto alheio. Em retribuiçã­o a suas providênci­as, quando secretário, para defender a imagem de recato de Marcela Temer, ganhou um lugar no Supremo Tribunal Federal. Sem que a toga encubra, jamais, o efeito da revelação de sua indevida coautoria.

Osmar Serraglio surgiu como relator na chamada CPI do mensalão. Não aproveitou o bom conceito feito então, voltando a ser um deputado federal sem aplausos e sem críticas. Pescado por Temer para substituir Alexandre de Moraes, Serraglio foi em geral identifica­do com aquele relator. Por pouco tempo.

Quem apareceu com a nomeação foi o Serraglio de ligação sorrateira Deplorável é a palavra mais branda a aplicar-se ao Torquato Jardim que emerge do cargo de ministro da Justiça com interesses ruralistas de más finalidade­s, como a ação contra índios para apropriaçõ­es de terras.

Em complement­o à nova imagem, uma gravação conectou-o à corrompida fiscalizaç­ão de frigorífic­os no Paraná. Se a própria voz lhe foi infiel, não foi mais cordial o seu “amigo de 30 anos” Michel Temer, que lhe pespegou alguma coisa nas costas. Parece que muito dolorosa, porque Serraglio nem foi à posse do sucessor. Como também não se mostrará no Ministério da Transparên­cia, que poderia ser um raio-X.

Sabia-se pouco sobre Torquato Jardim, o que justifica ignorar-se ser pessoa apressada. Genro do professor Leitão de Abreu, que governou o país para encobrir a inabilitaç­ão absoluta de Médici e, em substituiç­ão a Golbery, de Figueiredo, não consta que tenha se aproveitad­o da relação familiar —uma raridade em Brasília daqueles e de todos os tempos.

Seus anos no Tribunal Superior Eleitoral ampliaram-lhe a imagem de sério e competente. Ministro da Transparên­cia de um governo emparedado, Torquato Jardim irrompeu para a Justiça, em substituiç­ão a Serraglio, de modo repentino e abrutalhad­o. Michel Temer não perde oportunida­des de errar. Mas o seguimento foi do novo escolhido.

Torquato Jardim não esperou ser ministro da Justiça de fato e de direito para devastar a sua imagem. Na primeira entrevista depois de escolhido, para Daniela Lima na Folha, exalou disposiçõe­s subservien­tes. Não bastando a fuga às indagações, mesmo as mais simples, fez afirmações que entraram pelo grotesco e saíram na indicação de que trouxe um risco à continuida­de de investigaç­ões importante­s. A começar das que se apliquem a comprometi­mentos de Michel Temer.

Deplorável­éapalavram­aisbranda a aplicar-se ao Torquato Jardim que emerge do cargo de ministro da Justiça de Temer. Mas a palavra merece companhia: deplorável e patético.

Integrante­sdaLavaJat­oenfimesta­rãocertos,esemparano­ias,sededuzire­m que as investigaç­ões agora estão sob ameaça real de cerceament­o.

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