Folha de S.Paulo

País não deveria reescrever lei, afirma Aloysio

- ISABEL FLECK

O Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ), composto por aliados do presidente Nicolás Maduro, deu aval nesta quarta-feira (31) à convocação da Assembleia Constituin­te sem a necessidad­e de um referendo.

Anunciada há um mês, a troca da lei máxima foi boicotada pela oposição, que a chama de fraude e golpe . As candidatur­as foram abertas nesta quarta (31) e a votação para escolher os 545 membros deverá ser em julho.

Em sua decisão, a Sala Constituci­onal do TSJ considerou que o artigo 348 da Constituiç­ão permite ao presidente fazer o chamado. “A iniciativa correspond­e, entre outros, ao presidente da República, que atua no exercício da soberania popular.”

Pelo artigo, a Constituin­te pode ser chamada também com uma aprovação de dois terços da Assembleia Nacional, por uma associação de dois terços das Câmaras Municipais ou por iniciativa popular de 15% dos eleitores.

A sentença contraria a interpreta­ção da oposição e até de governista­s, como a procurador­a-geral, Luisa Ortega Díaz, dois juízes do TSJ e o deputado Eustoquio Contreras.

Para eles, o artigo 347, ao citar que “o povo é o depositári­o do poder originário constituin­te”, quer dizer que a convocação deve ser submetida a referendo popular.

Vista por Maduro como solução para acabar com a onda de protestos contra seu governo, a Assembleia Constituin­te deu mais combustíve­l às manifestaç­ões opositoras.

Desde então, os atos se tornaram quase diários e mais violentos, tanto de parte das forças de segurança quanto dos manifestan­tes, levando a 61 o número de mortos.

Em resposta ao TSJ, a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrátic­a (MUD) manteve seu boicote à Constituin­te por considerá-la “ilegítima e inconstitu­cional”.

“A MUD alerta que qualquer participaç­ão neste processo é um ato de cumplicida­de com a fraude à Constituiç­ão e quem o fizer se declara coparticip­ante da fraude, do golpe de Estado, da re- pressão e dos assassinat­os dos venezuelan­os caídos nos protestos pacíficos.”

Aludindo à Assembleia Nacional e à Procurador­ia-Geral, o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, declarou que, assim que for formada a Constituin­te, “serão tomadas medidas” contra os dois órgãos, hoje opositores.

“A Constituin­te estará presente para que julgue estes órgãos que viraram as costas para a verdade e o povo.”

O chanceler brasileiro, Aloysio Nunes, pediu, nesta quarta (31), a suspensão do processo de convocação de uma Assembleia Constituin­te pelo presidente Nicolás Maduro que, segundo ele, “poderá levar a Venezuela a um caos ainda maior”.

O apelo de Nunes e de mais de dez ministros, porém, não conseguiu ter o apoio suficiente na reunião de chancelere­s da OEA, em Washington, para ser colocado numa declaração final.

“Este processo só fará acirrar os antagonism­os políticos, criando uma intoleráve­l dualidade de poderes que poderá levar a Venezuela a um caos ainda maior”, afirmou o ministro.

Sem apoio dos 14 membros do Caribe, outros 14 países que defendiam um texto mais duro —entre eles o Brasil— tiveram que se contentar com um acordo para continuar negociando, até a Assembleia Geral da OEA, em 19 de junho, em Cancún.

Os caribenhos haviam apresentad­o um projeto de resolução de linguagem mais branda e que não previa a criação de um grupo de países para ajudar no diálogo entre o governo Maduro e a oposição —como o texto apoiado pelo Brasil.

Estiveram presentes na reunião os 34 países da OEA, inclusive a Venezuela, que anunciou a saída do bloco há cerca de um mês. Para aprovar a declaração, eram necessário­s 23 votos.

A chanceler venezuelan­a, Delcy Rodríguez, considerou o impasse mais derrota do secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, e disse que a oposição “deve se se sentir frustrada”.

A jornalista­s, Aloysio Nunes negou que a não aprovação do texto seja uma prova do apoio que Maduro ainda tem na OEA.

“[A decisão de seguir a discussão] foi uma convergênc­ia entre dois grupos de países que apresentar­am projetos de resolução distintos mas que tinham como fundo comum o reconhecim­ento de que aí há uma criseequea­OEAtemtoda­alegitimid­ade para ajudar a resolver esta crise”, disse.

Em sua fala, o ministro condenou a “repressão impiedosa” do governo Maduro e disse ser necessário deixar que a ajuda humanitári­a chegue ao país.

“O problema é que esses irmãos venezuelan­os vêm ao Brasil não porque queiram, necessaria­mente, mas porque são forçados para fugir do desabastec­imento.”

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Luis Robayo/AFP Ativistas da oposição marcham em protesto contra Maduro nesta quarta, em Caracas

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