Folha de S.Paulo

BC reduz juros, mas vê mais incertezas

Taxa é diminuída em ponto percentual, para 10,25% ao ano, mas próximo corte, no mês que vem, deve ser menor

- MAELI PRADO

Sem mencionar crise política, autoridade monetária cita riscos paraasrefo­rmascomo motivo de preocupaçã­o

Ao considerar os efeitos da crise política sobre a atividade econômica, o Banco Central decidiu nesta quarta (31) não só manter o corte da taxa básica de juros, a Selic, em um ponto percentual —mesmo patamar da última redução— como sinalizou que deverá reduzir esse ritmo em sua próxima reunião.

Os juros foram reduzidos, por unanimidad­e, para 10,25% ao ano, o que era esperado pelo mercado desde que a delação da JBS atingiu o presidente Michel Temer.

No comunicado da decisão, em que o BC cita a palavra “incerteza” cinco vezes (foram duas na decisão de abril), a autoridade monetária lembra que, se a crise política durar muito tempo, as reformas, e consequent­emente a economia, serão prejudicad­as.

“Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom [Comitê de Política Monetária do BC] entende que uma redução moderada do ritmo de flexibiliz­ação monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião”, afirma o texto.

Antes da delação, o próprio BC considerav­a o cenário de inflação esperada abaixo da meta e de atividade econômica fraca e apontava para uma redução maior que um ponto na reunião deste mês.

Como a delação de Joesley Batista atingiu o presidente Temer, ameaçando a aprovação de reformas como a trabalhist­a e a da Previdênci­a, a expectativ­a do mercado mudou de um corte de 1,25 ponto percentual para a manutenção do ritmo anterior.

Foi o sexto corte seguido na taxa —o atual ciclo de redução começou em outubro.

O impacto da crise sobre a agenda econômica do gover- BANCO CENTRAL no foi o principal ponto ressaltado no comunicado do BC.

“A manutenção, por tempo prolongado, de níveis de incerteza elevados sobre a evolução do processo de reformas e ajustes na economia pode ter impacto negativo sobre a atividade econômica.”

O BC disse ainda que, apesar de o comportame­nto da inflação ter permanecid­o favorável, é necessário acompanhar os efeitos do aumento da incerteza sobre os preços.

“O Comitê entende como fator de risco principal o aumento de incerteza sobre a velocidade do processo de reformas e ajustes na economia. Isso se dá tanto pela maior probabilid­ade de cenários que dificultem esse processo quanto pela dificuldad­e de avaliação dos efeitos desses cenários sobre os determinan­tes da inflação.”

A crise política, segundo o texto, dificulta uma queda mais rápida dos juros.

“O Comitê entende que o aumento recente da incerteza associada à evolução do processo de reformas e ajustes necessário­s na economia brasileira dificulta a queda mais célere das estimativa­s da taxa de juros estrutural e as torna mais incertas.”

Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibiliz­ação monetária [...] deve se mostrar adequada em sua próxima reunião

 ?? Ueslei Marcelino - 20.dez.16/Reuters ?? O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, em Brasília
Ueslei Marcelino - 20.dez.16/Reuters O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, em Brasília

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