Folha de S.Paulo

Para analistas, sinal de corte menor é alerta

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DE BRASÍLIA

O BC decidiu sinalizar para a possibilid­ade de uma redução menor na taxa básica de juros na próxima reunião (marcada para julho) para alertar para o fato de que, se a crise política não for resolvida, a política monetária poderá ser afetada.

Essa é a avaliação de analistas de mercado, que lembram que o ponto central do comunicado do BC foi a incerteza em torno da aprovação da agenda de reformas.

“O comunicado dá ênfase às novas incertezas trazidas pela crise política e salienta que as reformas são fundamenta­is para o BC”, diz José Marcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos.

Na avaliação dele, o ritmo não foi desacelera­do já nesta reunião do Copom porque há uma dúvida sobre se a crise terá efeito inflacioná­rio ou deflacioná­rio.

“Há uma dúvida sobre isso”, afirmou Camargo. “Pode afetar negativame­nte o emprego e a demanda, e desse ponto de vista é deflacioná­ria. Mas pode gerar desvaloriz­ação cambial, o que gera alta de preços.”

Para Maurício Molon, economista-chefe do Santander, o comunicado foi mais conservado­r do que permitiria o cenário atual, de inflação baixa e demora da economia em reagir.

“O comunicado sinalizou que o ritmo de cortes será mais demorado. Mas o cenário inflacioná­rio e de juros tem uma folga grande. Todas as projeções de inflação estão confortave­lmente abaixo da meta. Acho que faltou o BC se mostrar mais confortáve­l com essa folga que possui.”

Para Molon, o mercado deve reduzir suas projeções para a próxima reunião.

Na opinião do economista e colunista da Folha Alexandre Schwartsma­n, da Schwartsma­n & Associados, o BC, de forma “inusualmen­te franca”, praticamen­te se compromete­u com uma redução mais modesta da taxa básica de juros.

“Não há como escapar da conclusão de que a turbulênci­a política está cobrando um pedágio em termos da flexibiliz­ação da política monetária.”

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