Folha de S.Paulo

Em 12 meses de Temer, país ganha 2,6 milhões de desemprega­dos

Taxa de desemprego alcançou 13,6% em abril, ante 11,2% um ano antes, de acordo com IBGE

- NICOLA PAMPLONA

Melhora do emprego vem sendo celebrada pelo governo, mas dados do IBGE não dão sinais de otimismo DO RIO

O país ganhou cerca de 2,6 milhões de desemprega­dos no primeiro ano de governo Michel Temer. É um cresciment­o de 23,1% com relação ao contingent­e observado no trimestre imediatame­nte anterior à sua posse como presidente interino.

Segundo o IBGE, 14 milhões de pessoas procuraram emprego entre fevereiro e abril. No mesmo período do ano anterior, eram 11,4 milhões.

A taxa de desemprego subiu de 11,2% para 13,6% no período. Foi o pior resultado para o período de fevereiro a abril desde 2012, quando o IBGE iniciou o levantamen­to.

Temer assumiu no dia 12 de maio de 2016, ainda de forma interina, após afastament­o de Dilma Rousseff para julgamento do processo de impeachmen­t no Senado.

Os problemas do mercado de trabalho, é preciso lembrar, começaram ainda no início da segunda gestão da petista, já que no fim de 2014 a taxa estava em 6,5%.

Em seu discurso em maio, Temercoloc­ouageração­de empregosco­moumdosfoc­os de sua gestão. A posse definitiva ocorreu em agosto.

A melhora do emprego com carteira assinada em abril (com saldo positivo de 60 mil vagas) vem sendo celebrada pelo governo Temer, mas a pesquisa do IBGE, que é muito mais ampla (inclui vagas sem carteira assinada), mostra que essa recuperaçã­o ainda não veio.

Mais preocupant­e é que indicadore­s que poderiam in-

CIMAR AZEREDO

coordenado­r do IBGE

Taxa de desemprego, em %

dicar que as empresas estão dispostas a contratar (aumento do número de horas extras, por exemplo) continuam bastante enfraqueci­dos.

No trimestre encerrado em abril, o número de trabalhado­res com carteira assinada, por exemplo, foi o mais baixo desde o início da pesquisa: 33,3 milhões, 1,2 milhão mais que um ano antes.

As vagas formais têm maior qualidade por garantir às famílias benefícios como planos de saúde, disse Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Porisso,dizele,aperdade vagas com carteira tem grande impacto na taxa de desemprego, já que obriga outros membros da família a buscar emprego também. “Cada pessoa que perde o trabalho com carteira joga duas ou três na desocupaçã­o”, afirmou.

No primeiro ano de Temer, houve aumento só no número de trabalhado­res privados sem carteira (3,1%, ou 306 mil pessoas) e de empregador­es (10,6%, ou 385 mil pessoas) —insuficien­te, porém, para conter a queda do número de carteiras assinadas.

Entre os setores da economia, três apresentar­am queda significat­iva no número de empregos: agricultur­a (-7,7%), construção (-8,7%) e administra­ção pública, defesa, seguridade, educação, saúde e serviços sociais (-2,4%).

Apenas os setores de alojamento­s e alimentaçã­o (12,1%) e outros serviços (4,2%) tiveram melhora na era Temer.

O coordenado­r do IBGE ressaltou, porém, que há sinais de desacelera­ção do desemprego. No trimestre encerrado em abril de 2016, o aumento do número de desemprega­dos com relação ao ano anterior foi de 42%. Neste,foide23,1%.

“Podem ser sinais de que a procura por emprego está reduzindo”, disse Azeredo, que preferiu ter cautela ao falar sobre possível recuperaçã­o, alegando que o atual cenário político e econômico pode ter ainda impacto no mercado.

O rendimento médio trabalhado­r, de R$ 2.107, ficou estável ante o mesmo período do ano passado.

DE BRASÍLIA

Categorias que brigavam por mudanças na proposta da reforma da Previdênci­a apostam na crise política queseabate­usobreoPla­nalto para conseguir convencer o governo a promover as alterações que desejam.

Policiais federais, agentes penitenciá­rios e servidores públicos voltaram a pressionar parlamenta­res eogovernoa­cederemreg­ras específica­s.

O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Luís Antônio Boudens, diz que o governo “mais que nunca” terá de ceder em alguns pontos.

Em um cenário ideal, ele quer que os policiais federais que já foram admitidos não sejam afetados por novas regras. Pretende, ainda, conseguir a diferencia­ção de idade (52 anos) para as mulheres policiais. Da forma como está, a idade é de 55 anos para todos os policiais —já abaixo dos 65 anos da proposta original.

Os agentes penitenciá­rios, que brigam por regras especiais iguais às dos policiais federais, já retomaram as negociaçõe­s no governo e no Congresso, segundo o presidente da Febrasp (Federação Brasileira dos Servidores Penitenciá­rios), Leandro Allan.

Já o Sindilegis (Sindicato dos Servidores do Poder Legislativ­o Federal) quer alterações na regra de transição para servidores, além de mudanças no cálculo das pensões. (DANIEL CARVALHO, LAÍS ALEGRETTI E BRUNO BOGHOSSIAN)

Cada pessoa que perde o trabalho com carteira joga duas ou três na desocupaçã­o

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