Folha de S.Paulo

O choque econômico de Temer-Joesley

- VINICIUS TORRES FREIRE

O BANCO CENTRAL avisou em português claro que os juros vão baixar de modo mais devagar.

Antes de todos os grampos do presidente, esperava-se baixa de 1,25 ponto na Selic, para 10%, nesta quarta-feira (31). O corte foi de um ponto. Na próxima reunião do BC, no distante 26 de julho, será menos que isso, afora milagres.

Até agora, tudo o que sabemos das consequênc­ias econômicas de Temer-Joesley apareceu nas taxas de juros, não apenas aquelas “do BC”. Ainda não se notou um revertério fatal para a perspectiv­a de recuperaçã­o econômica miudinha, a quase estagnação com a qual contávamos, até abril. Com mais um trimestre disso, vamos para o vinagre, menos que estagnação, “tudo mais constante”.

Mas o Brasil tornou-se inconstant­e em ciclos diários. Além do mais, ainda nada sabemos da reação de bancos, empresas e consumidor­es ao choque político.

Apenas em abril os bancos haviam começado a baixar de modo perceptíve­l as taxas de juros para o tomador final. Concessões de crédito mais relevantes talvez viessem no segundo semestre.

No atacadão de dinheiro, no mercado interbancá­rio e nos empréstimo­s para o governo, os juros haviam dado um salto dramático no dia seguinte à notícia da farra do friboi, do grampo de Temer. Mas até que se acalmaram.

Os juros de longo prazo estão meio ponto acima da taxa anterior à crise. Os juros reais de um ano (exante) saíram de 3,9% ano na véspera do dia do grampo para 5,2% na quinta-feira surtada do mercado de 17 de maio. Agora rondam os 4,2%.

Não tem grande problema aí, por ora, mas, sim, na incerteza, na névoa suja que baixou sobre o Brasil e da atitude de quem compra, empresta e investe. O país anda tão mais escalafobé­tico que até a Federação do Comércio de São Paulo criticou a “ousadia” do BC em cortar os juros em um ponto, coisa tão rara de ver quanto eclipse do Sol em dia de chuva.

No mais, tudo depende dessa gente que raptou de vez a República e nos mantêm como reféns. O que disse enfim o BC? “Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibiliz­ação monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião.” Ou seja, corte menor da Selic em julho.

Qual o problema? “[O] ...aumento de incerteza sobre a velocidade do processo de reformas e ajustes na economia. Isso se dá tanto pela maior probabilid­ade de cenários que dificultem esse processo quanto pela dificuldad­e de avaliação dos efeitos desses cenários sobre os determinan­tes da inflação.” Isto é, não se sabe como os donos do dinheiro vão projetar inflação, deficit, dívida e, pois, quanto vão cobrar pelos seus recursos, dada a incerteza sobre o destino da crise política e seu efeito sobre as “reformas”.

As estatístic­as econômicas até maio estarão vencidas pelo tempo acelerado e podre da crise. Apenas em julho haverá números em quantidade e novidade críveis para os novos tempos de barafunda. Os dados até melhorzinh­os de supermerca­dos e despiorado­s no emprego são cifras mortas, no máximo congeladas.

Agora, é tudo política e, no que é possível enxergar na neblina, reação da confiança dos agentes econômicos.

BC diz que vai retardar a queda de juros, primeira consequênc­ia econômica da crise dos grampos

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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