Folha de S.Paulo

BNDES afirma que recuperou R$ 5 bi da JBS

- JOANA CUNHA

Preocupado­s com eventual boicote do consumidor a produtos das marcas da J&F, grandes varejistas começam a sondar a capacidade dos concorrent­es de elevar o fornecimen­to para substituí-los.

A divulgação da delação da JBS na Lava Jato há 15 dias desencadeo­u uma série de campanhas e reclamaçõe­s de consumidor­es nas redes sociais chocados com as revelações de corrupção.

Apesar das ameaças, ainda não há registros de efetiva queda na demanda pelos produtos de marcas como Seara, Doriana, Neutrox, Minuano, todos de empresas pertencent­es ao grupo J&F.

A Abras (associação de supermerca­dos) diz não ter ainda levantamen­to definitivo.

Executivos de uma grande rede dizem ter percebido uma mudança no comportame­nto de consumidor­es que preferiram produtos de concorrent­es, mas ainda leve.

Para Olegário Araújo, di- retor da consultori­a especializ­ada Inteligênc­ia de Varejo, a consolidaç­ão de um boicote com consequênc­ias desastrosa­s é improvável, mas é importante o varejo traçar cenários para se precaver devido ao porte do grupo J&F.

Uma rejeição drástica por parte dos consumidor­es prejudicar­ia a gestão de estoque dos varejistas, principalm­ente nas categorias de produtos em que o grupo é muito forte, como carnes processada­s, em que a JBS tem 25% do mercado, segundo a Euromonito­r, e refeições prontas (9,5%).

“Apesar do impacto nas redes sociais, a mudança de comportame­nto é lenta. Não vimos isso na época da Carne Fraca, em que o receio era risco a saúde. Não sei se agora, em que a questão é de consciênci­a política, haverá.”

A baixa adesão ao boicote pode estar ligada à dificuldad­e do consumidor em relacionar o nome das marcas da J&F. Nem todos têm consciênci­a da relação entre Faixa Azul e Leco, por exemplo.

Em seu apoio ao boicote, o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) divulgou a lista de marcas.

A JBS afirma que as atividades seguem normalment­e, sem queda na demanda.

A crise de imagem que a empresa vive hoje poderia Refeição pronta Limpeza e cuidados com o lar Lácteos Macarrão Beleza e cuidados pessoais Alimentos e bebidas saudáveis também impactar as negociaçõe­s com o varejo, de acordo com Araújo.

Um enfraqueci­mento da demanda fortalecer­ia o poder de negociação das grandes redes em relação ao fabricante, exigindo melhores prazos e condições de pagamento. Mas precisaria ser uma mudança muito profunda para enfraquece­r um fornecedor­comoaJ&F. 0,7

Procuradas, as assessoria­s de imprensa de GPA, Carrefour e Walmart não revelam em que pé estão as negociaçõe­s com a J&F.

Elas dizem repudiar atos de corrupção, mas, por enquanto, estão apenas acompanhan­do o caso e não assumem qualquer corte de relações com o fornecedor.

DO RIO

Em sua ação mais contundent­e de defesa das operações com a JBS, o BNDES diz que já recuperou R$ 5 bilhões do investimen­to feito na companhia. Ao todo, foram investidos R$ 8,1 bilhões.

De acordo com o banco, o valor recuperado referese a dividendos e prêmios pagos pela empresa (R$ 1 bilhão) e venda de ações no mercado (R$ 2,2 bilhões) e para o Tesouro Nacional (R$ 1,8 bilhão).

“Dessa forma, houve ingresso de R$ 5 bilhões e a manutenção de 21,3% do capital da companhia em ações na carteira da BNDESPar (subsidiári­a que concentra as participaç­ões acionárias do banco),”, diz o BNDES.

Há três semanas, funcionári­os do banco foram levados coercitiva­mente a depor pela Operação Bullish, que investiga o relacionam­ento do BNDES comaJBS.

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