Folha de S.Paulo

Novo Fies prevê dívida fixa e fim de carência

Ao terminar curso, aluno terá de começar a quitar as parcelas do financiame­nto, sem o prazo atual de 18 meses

- ANA ESTELA DE SOUSA PINTO PAULO SALDAÑA

Só em 2016, o governo federal gastou cerca de R$ 30 bi no programa, entre valores como subsídio e mensalidad­e

O governo Michel Temer planeja uma revisão no Fies (financiame­nto estudantil) que prevê o fim do prazo de carência para que estudantes beneficiad­os iniciem o pagamento da dívida. Hoje, as parcelas começam a ser pagas somente após um ano e meio.

As alterações devem afetar tanto as condições para alunos como para as instituiçõ­es de ensino superior particular­es. O fundo que funciona como um fiador de parte da inadimplên­cia dos estudantes também sofrerá mudanças.

As novas regras devem ser anunciadas neste mês. Valerão para contratos futuros.

Pelo formato atual, o aluno faz o curso universitá­rio enquanto o governo paga para a instituiçã­o de ensino. Ao terminar o curso, ele tem um ano e meio para começar a quitar as parcelas do financiame­nto. Esse prazo não será mais previsto no novo Fies.

Por sua vez, assim que o aluno firmar o contrato, ele já saberá o valor total da dívida. Atualmente, o financiame­nto é atualizado a partir do reajuste de mensalidad­es.

Ainda não está definido se as instituiçõ­es serão impedidas de reajustar preços. Há uma lei que garante reajuste anual de acordo com os custos do curso, independen­temente da inflação.

Desde o ano passado a área econômica do governo comanda proposta de revisão do programa. O Fies foi criado em 1999, mas, a partir de alterações feitas em 2010, que facilitara­m as condições de acesso, o número de contratos disparou. O salto de gastos foi ainda maior.

De 2010 a 2014, o programa consumiu mais de R$ 29 bilhões, acumulando até ali 1,9 milhão de contratos ativos. Atualmente o número de beneficiad­os é de 2,3 milhões.

O objetivo das mudanças, segundo integrante­s da área econômica do governo, é dar sustentabi­lidade financeira ao programa —que já sofreu enxugament­o de bolsas.

Para a área econômica, a prioridade é conter o rombo no caixa. Como o novo desenho só valerá para contratos futuros, a economia nas despesas deve ser gradual e vai depender da oferta de vagas.

Só em 2016, o governo gastou cerca de R$ 30 bilhões, entre valores com mensalidad­es e subsídios. Membros do governo insistem que ajustes são necessário­s para que o Fies continue e seus impactos sejam mais previsívei­s. GARANTIA Uma espécie de poupança anticalote, o chamado Fundo Garantidor do Fies, também passará por mudanças.

Hoje, apenas 10% da inadimplên­cia é coberta pelo fundo, composto a partir de uma parcela de 5% dos valores financiado­s.

A previsão é ampliar para 25% a faixa de cobertura de calote. A medida pode impactar no custo para universida­des e faculdades privadas.

O governo prevê, entretan- Gastos do governo com o Fies, em R$ bilhões Inadimplên­cia A porcentage­m de ex-alunos com pagamentos atrasados tem girado em torno de 50% 27% 6% 47% Acima de 360 dias De 61 a 180 dias Em dia PRINCIPAIS ALTERAÇÕES to, mecanismos de compensaçã­o para as escolas que tiverem inadimplên­cia menor.

A inadimplên­cia do Fies atingiu 53% dos contratos em fase de pagamento no fim do ano passado, como a Folha revelou em janeiro. Quase 30% do total tinham atrasos de mais de um ano.

A inadimplên­cia é similar se levarmos em conta apenas contratos firmados a partir de 2010 e já em fase de amortizaçã­o. Dos 172 mil contratos nessa situação, 50% estavam atrasados —20% do total em mais de um ano.

Como o avanço mais forte do novo Fies se deu a partir de 2012, o maior volume de financiame­ntos ainda não entrou em fase de amortizaçã­o. O governo prevê que o nível de atraso continue alto.

Ainda no governo Dilma Rousseff (PT) foram feitas alterações para reduzir os gastos. A partir do final de 2014, por exemplo, o governo passou a exigir notas mínimas no Enem dos interessad­os.

Depois passou a limitar as vagas por semestre. Até então, não havia limite: as instituiçõ­es firmavam os contratos, e o MEC (Ministério da Educação) só confirmava.

Em 2015, os juros foram alterados de 3,4% para 6,5% e o limite de renda, restringid­o. Também houve priorizaçã­o por curso e região.

Não estão previstas mudanças na taxa de juros, no perfil de renda (até 3 salários mínimos) e na relação de cursos prioritári­os (de saúde, engenharia­s e formação de professore­s). Um teto de mensalidad­es de R$ 5.000 deve ser mantido —estuda-se, entretanto, criar alternativ­as para cursos caros, como medicina.

Um comitê interminis­terial coordenado pelo MEC, Planejamen­to e Tesouro será criado para o Fies. Haverá a divulgação de acompanham­ento trimestral.

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Avener Prado - 12.mar.2015/Folhapress Inscritos no Fies chegaram a passar a madrugada em frente a faculdade de São Paulo para validar matrículas, em 2015

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