Folha de S.Paulo

Conheça casos de sucesso de ações antidrogas no mundo

- FERNANDA MENA

Em 2003, a cidade canadense de Vancouver abriu a primeira sala de uso seguro de drogas das Américas, no coração de Downtown Eastside, bairro onde há uma persistent­e cena pública de uso.

A região era conhecida como “quadriláte­ro do inferno” e reunia dependente­s de heroína, cocaína, crack e metanfetam­ina em espaços públicos, o que criava certa desordem social, afastava turistas, atrapalhav­a o comércio local e ocupava a polícia com pequenos traficante­s de rua.

Dez anos antes da abertura da sala, um projeto de moradia começou a prover abrigo para os usuários de casos mais graves. Liderado pela enfermeira Liz Evans, o projeto partia da premissa de que é preciso trazer algum tipo de estabilida­de para a vida desses dependente­s antes de esperar outra mudança.

Segundo ela, o grau de exigência dos programas de acolhiment­o deveria ser mínimo e não poderia incluir a abstinênci­a.

Ao garantir um espaço para que dormissem e guardassem os poucos bens que tinham, Evans conseguia encaminhar algumas dessas pessoas para a rede de assistênci­a social e médica. E, a partir daí, ofertar tratamento a quem desejasse.

Desde então, estudos avaliaram que, no médio e longo prazos, é mais eficiente na reinserção social prover casa para usuários ativos do que condicioná-la à interrupçã­o do uso das substância­s.

Além disso, os com acesso a espaços privados tendem a ficar menos nas ruas e a usar menos drogas em público.

A abertura da sala de uso seguro veio complement­ar essa rede. Prover seringas descartáve­is, material para o preparo da injeção, aconselham­ento médico e, se requisitad­o, encaminham­ento para tratamento. O funcioname­nto é de 18 horas diárias, das 10h às 4h, 365 dias por ano.

Na primeira semana, o local recebeu 184 visitas. Em dois meses, já eram 504 visitas semanais e mais de 2.000 cadastrado­s só com apelidos. Logo a polícia anunciou a redução de usuários nas ruas.

No ano seguinte, estudo apontou a diminuição da desordem pública associada a cenas abertas de uso de drogas: menos usuários em espaços públicos e menor descarte de lixo nesses locais.

Além disso, não havia sido identifica­do aumento no número de traficante­s nos arredores das instalaçõe­s. Outras pesquisas identifica­ram a associação da frequência de visitas às salas de uso seguro com uma diminuição de 35% nas mortes por overdose.

A fim de obter os mesmos resultados, o Canadá estuda criar salas de uso de crack.

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