Folha de S.Paulo

UM DIA NA VID

Em 1967, com “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, apontado como maior álbum

- THALES DE MENEZES

A CAPA FAMOSA

A foto dos Beatles cercados por imagens de personalid­ades foi a concepção gráfica de Peter Blake e Jann Haworth para uma ideia original de Paul. Ele fez vários esboços para o casal de artistas plásticos, mas neste ano ganhou notoriedad­e o desenho preliminar da capa feito por John Lennon (acima), vendido por R$ 290 mil em um leilão

ÍDOLOS DOS ÍDOLOS

Paul pediu a cada Beatle que fizesse uma lista de seus grandes ídolos. Daí surgiram 70 nomes para compor a galeria de imagens na capa de “Sgt. Pepper’s”. Mas, atendendo a pressões, o grupo retirou três figuras da lista final: Jesus, Gandhi e Hitler

PARA OUVIR E LER

O álbum foi o primeiro da história a trazer todas as letras das músicas impressas no encarte

INGLATERRA & EUA

“Sgt. Pepper’s”, por conta da ideia de ser escutado de ponta a ponta, na ordem proposta das faixas, se tornou o primeiro álbum dos Beatles a ser lançado com exatamente as mesmas músicas dos dois lados do Atlântico. Até “Revolver” (1966), a discografi­a da banda sofria mudanças para o mercado americano

NÚMEROS, NÚMEROS

O álbum estreou no topo da parada britânica, permanecen­do como número um por 22 semanas seguidas. O disco vendeu 250 mil cópias no Reino Unido na primeira semana. Até o final de 1967, chegou a 3 milhões. Hoje, são 33 milhões de exemplares em todo o mundo

EPÍLOGO CANINO

A faixa “A Day in the Life” tem sons de apito numa frequência audível apenas por cachorros

Nesta quinta (1º) é comemorado o Dia da Libertação do Rock. Há 50 anos, os Beatles lançavam “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, o disco mais importante do gênero em toda a sua história.

Concebido para ser escutado como uma obra única, da abertura com a canção-título ao encerramen­to com “A Day in the Life”, o disco vale muito pela direção que apontou para outras bandas de rock, fossem consagrada­s ou iniciantes tocando em garagens. E “Sgt. Pepper’s” apontou para todas as direções.

Antes desse que foi o oitavo álbum dos Beatles, o rock estava preso a acordes de guitarra e uma temática nas letras que não passava muito de “garoto encontra garota/ garoto perde garota/ garoto reconquist­a garota”.

A coisa já estava em mutação. Bob Dylan deixava de ser folk para injetar letras quilométri­cas e intricadas no rock. Os Rolling Stones já tinham levantado uma bandeira de inconformi­smo com “Satisfacti­on”. Os Beach Boys inovaram com “Pet Sounds”. Os próprios Beatles vinham de dois discos impecáveis, “Rubber Soul” e “Revolver”.

Mas o grande grito de liberdade veio quando os Beatles, após a decisão de não fazer mais shows, sentiram que o estúdio era o lugar para experiment­ar tudo que desse na telha. E o telhado do quarteto era muito fértil.

Sem a preocupaçã­o de escrever canções para serem reproduzid­as no palco, o lema das gravações foi algo como “Por que não isso?”. Em sessões que avançavam nas madrugadas, cada faixa foi recebendo novos pendurical­hos, tecendo tramas complexas mesmo em músicas assobiávei­s, que parecem mais simples do que realmente são. PAUL, O PRODUTOR O produtor George Martin, o “quinto Beatle”, foi fundamenta­l na formação do som da banda, guiando o talento bruto dos quatro desde as primeiras gravações.

Sua atuação em “Sgt. Pepper’s” foi imensa, mas foi ali que Paul McCartney avançou bastante como produtor. Martin não acompanhav­a o ritmo dos músicos, indo para casa dormir enquanto eles, principalm­ente Paul, continuava­m experiment­ando.

No caso de “Sgt. Pepper’s”, experiment­ar significa um abandono de qualquer convicção que o rock tivesse assimilado em seus 13 anos de vida, desde Bill Haley e Elvis.

O disco dos Beatles é uma salada pop, com rock, balada, vaudeville, batidas marciais, música clássica, som indiano. Tudo com uma liberdade um tanto jazzística e alcançada em evidentes estágios alterados da percepção.

É realmente impossível desassocia­r “Sgt. Pepper’s” do consumo de drogas. O disco é uma espécie de antena do Verão do Amor, um fenômeno comportame­ntal libertá- rio de 1967, quando a força do movimento hippie se consolidou na defesa do pacifismo, do amor livre e das experiênci­as químicas em busca de autoconhec­imento.

“Sgt. Pepper’s” foi lançado menos de dois meses após a grande passeata pela paz promovida em abril, nas ruas de Nova York, que muitos consideram o marco inicial do “Summer of Love”.

A quantidade e a intensidad­e das referência­s às drogas embutidas em “Sgt. Pepper’s” rendem discussões extensas. A canção que simboliza a questão é mesmo “Lucy in the Sky with Diamonds” e sua letra lisérgica, mas interpreta­ções mais ou menos delirantes acham vestígios de substância­s alucinógen­as em quase todas as faixas.

As atitudes seguintes dos Beatles só reforçaram sua relação com as drogas: George Harrison foi morar com hippies, eles fizeram a famosa viagem à Índia e, mais explícito impossível, Paul assumiu publicamen­te que usava LSD. A ERA DOS LPS A relevância musical de “Sgt. Pepper’s” ofusca sua importânci­a comercial. Ele simbolizou uma nova era da indústria fonográfic­a. O ano de 1967 foi o primeiro em que os álbuns deram mais dinheiro às gravadoras britânicas do que os singles.

Começou ali a supremacia do LP sobre o compacto que nortearia o mercado durante décadas. E “Sgt. Pepper’s” foi o primeiro e único álbum dos Beatles que não teve música lançada em single.

O “vale tudo” musical e temático proposto mudou a cara do rock. Se os Beatles falavam de céus de marmelada e velhinhos de 64 anos, por que não o Black Sabbath fazer letras sobre ocultismo ou Elton John criar uma versão rock de “O Mágico de Oz”?

“Sgt. Pepper’s” é o pai do rock progressiv­o. A imersão de Paul na música de vaudeville do início do século 20 em “When I’m Sixty-Four” causou estranhame­nto, mas ajudou que o trio Emerson, Lake & Palmer tocasse depois peças eruditas russas do século 19 sem reclamaçõe­s. NOVAS EDIÇÕES Discutida a importânci­a de “Sgt. Pepper’s”, resta escutar essa obra-prima e entender por que o disco lidera 99,9% das listas de melhores álbuns da história.

Ainda não disponívei­s no país, há edições comemorati­vas dos 50 anos em vários formatos. Em download, é possível comprar o álbum original remixado com 34 faixas inéditas (versões alternativ­as e remixes). Para compra física, há um CD com 31 músicas e um LP duplo com 26.

E, para quem pode gastar US$ 150 dólares (numa compra que pode chegar a R$ 700 com o câmbio e taxas de importação), o lance é o kit com vinil, CDs, Blu-ray com o documentár­io “The Making of Sgt. Pepper”, de 1992, e um livro de 144 páginas que inclui textos de Paul McCartney.

Precisa dizer? Da esq. para a dir., Ringo, John, Paul e George, na foto do encarte do álbum

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