CRÍTICA Trunfo de ‘Z’ é celebração do espírito explorador
Com fotografia grandiosa, filme levanta temas que dominavam o mundo antes e durante a Primeira Guerra Mundial
FOLHA
Se você deseja assistir a “Z: A Cidade Perdida” achando que será uma nova versão dos filmes do Indiana Jones, melhor mudar de plano.
Baseado no best-seller de não ficção de David Grann, o filme avança a passos lentos, com poucas cenas de ação. Talvez a parte mais animada seja uma reunião da Sociedade Geográfica Real (Royal Geographic Society) da Grã-Bretanha, quando o protagonista, o explorador inglês Percy Fawcett (Charlie Hunnan), tenta convencer seus colegas da existência de uma civilização perdida na Amazônia, entre a Bolívia e o Brasil, onde hoje é o Acre.
Vemos um grupo de homens brancos, arrogantes e céticos, achando impossível que uma civilização avançada possa existir onde são encontrados apenas “selvagens”.
Fawcett precisava de um patrocinador para retornar à floresta, após ter algumas pistas de uma primeira viagem. São eles os sofisticados, argumenta Fawcett, não os europeus com seus preconceitos e guerras destruidoras.
Com fotografia grandiosa, o filme levanta temas que dominavam o mundo antes e durante a Primeira Guerra Mundial, quando os grandes impérios europeus e suas colônias na África, Ásia e nas Américas entravam em colapso.
Em casa, Nina (a excelente Sienna Miller), a fiel esposa de Fawcett, representa a luta das mulheres pela emancipação e independência. A vastidão primal da floresta é contrastada com cenas horrendas nas trincheiras durante a guerra, onde a cultura supostamente civilizada devasta a terra, desfigura a natureza e transforma árvores e soldados em espectros. Um homem vale menos do que al- amplia o mito ainda mais. Segundo o explorador canadense John Hemming, apesar de Fawcett ter sido um excelente topógrafo da região, como explorador era medíocre.
O melhor, me parece, é interpretar o filme como uma metáfora do espírito do explorador, sem se apegar à veracidade da narrativa. Felizmente, existem aqueles que são como o Fawcett do filme, pessoas apaixonadas que saem pelo mundo para ampliar as fronteiras do conhecido para todos nós. Esse espírito merece ser celebrado. MARCELO GLEISER