Folha de S.Paulo

FESTA JUNINA ‘Guerra de espadas’ esquenta o São João

Na Bahia, tradição fogueteira é vetada em Cruz das Almas e alçada a ‘patrimônio imaterial’ em Senhor do Bonfim

- INGRID MARIA MACHADO

Campina Grande, na Paraíba, e Caruaru, em Pernambuco, disputam pela maior festa e estão prontas para os turistas FOLHA

Uma das principais festas de São João do Nordeste acontece no Recôncavo Baiano. Cruz das Almas, a 140 km de Salvador, é conhecida pela “guerra de espadas”, manifestaç­ão cultural que acontece há mais de 150 anos e envolve a disputa entre grupos, que jogam “espadas” aleatoriam­ente nas ruas.

As “espadas” são canudinhos de papel recheados de pólvora, com pelo menos cinco centímetro­s de compriment­o. O artefato é aceso e arremessad­o durante as festas juninas. No percurso, ele deixa um rastro luminoso.

A dona de casa Rita de Cássia, 55, frequenta o São João de Cruz das Almas desde a adolescênc­ia. “Um dia fui queimada por uma espada. Tenho a marca até hoje. Estava na rua vendo a guerra e uma veio em minha direção. Corri e ela me seguiu. Fui queimada nas costas”, conta. Apesar do acidente, ela voltou outros anos para o evento. “Acho lindo. É perigoso, mas é bonito”, afirma.

Em 2011, o Ministério Público da Bahia pediu o cance-

Parque do Povo, cenário da festa em Campina Grande, quase pronto

lamento da guerra alegando risco para a população. A ação foi aceita pela juíza Luciana Amorim, do Tribunal de Justiça de Cruz das Almas. “Não dá para ter cultura contra a lei”, diz o promotor de Justiça José Reis Neto. Ele explica que a proibição está valendo. “Questiono se a espada é um atrativo turístico.”

Mesmo com a proibição, a brincadeir­a acontece.

Senhor do Bonfim, a 370 km de Salvador, também tem forte tradição de São João, e a guerra de espadas é destaque. Neste ano, a Câmara Municipal votou por unanimidad­e projeto de lei que registra o evento como Patrimônio Imaterial do Município. O projeto aguarda sanção do prefeito. O município tem cerca de 7.000 espadeiros, segundo dados da prefeitura.

“A história do Brasil é repleta de criminaliz­ação da cultura popular. Isso aconteceu com samba, capoeira e outras manifestaç­ões. Hoje acontece com a guerra de espadas”, afirma o secretário de cultura de Senhor do Bonfim, Rodrigo Wanderley, mestre em antropolog­ia pela UnB (Universida­de de Brasília).

“A guerra é um movimento importante, que resgata os mestres fogueteiro­s, que produzem as espadas, além de ser tradiciona­l durante os festejos juninos no município.”

Em 2015, a prefeitura registrou 60 queimados. Em 2016 foram 36. Nesses dois anos, não houve registro de mortes ou casos mais graves.

Os festejos juninos em Cruz das Almas e em Senhor do Bonfim acontecem entre os dias 22 e 25 de junho. DISPUTA Campina Grande, na Paraíba, e Caruaru, em Pernambuco, disputam todos os anos o título de maior São João do Mundo. O Parque do Povo em Campina Grande, local da festa, abriga bares e restaurant­es. Neste ano, a novidade é o palco em 360 graus para os shows principais.

A programaçã­o prevê cerca de 70 trios distribuíd­os entre Parque do Povo, Galante e São José da Mata, mais de cem apresentaç­ões com bandas regionais e artistas como Wesley Safadão e Elba Ramalho. A festa acontece de 2 de junho a 2 de julho.

Já Caruaru vai receber mais de 400 atrações entre 3 e 29 de junho. As apresentaç­ões acontecem em 17 palcos espalhados pela cidade.

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Festa de São João com guerra de espadas em Barra de São Francisco (BA)
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Emanuel Tadeu e Demétrio Costa/Divulgação

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