Acordo da JBS é brando, afirmam especialistas
Termos são parecidos com os da Odebrecht
Alardeado pelo Ministério Público como o maior da história, o acordo de leniência da JBS anunciado nesta semana, de R$ 10,3 bilhões, foi considerado brando por especialistas.
Na prática, segundo Cesar Caselani, professor de finanças da FGV, o acordo da JBS pode ser até muito semelhante ao da Odebrecht. Isso porque os juros escolhidos para os irmãos Wesley e Joesley Batista são mais baixos do que a taxa destinada no acordo fechado com a empresa de Marcelo Odebrecht.
A J&F terá 25 anos para pagar e a dívida terá apenas correção monetária pelo IPCA. No acumulado de 12 meses até abril, o IPCA está em 4,08%. Já a Odebrecht pagará um valor absoluto menor —R$ 3,8 bilhões— mas com correção pela Selic. A taxa Selic está em 10,25%. O prazo é de 23 anos.
Quando são comparados os acordos de leniência das duas, tem-se a impressão de que a multa da JBS é muito grande. Mas se levados ao valor futuro, ou seja, ao distribuir o pagamento no tempo e submetê-lo aos juros, o resultado final pode ser quase o mesmo.
Segundo projeções do professor da FGV Caselani, com uma estimativa de inflação de 4% pelos próximos 25 anos (um cálculo considerado otimista, segundo ele), o valor futuro para a JBS ficaria em cerca de R$ 27,5 bilhões.
No caso da Odebrecht, uma estimativa de Selic a 9% (também otimista para os padrões brasileiros) levaria ao valor futuro de R$ 27,78 bilhões ao final dos 23 anos de prazo.
“Achei insuficiente colocar apenas o IPCA na JBS, que não representa nem a taxa básica. É simplesmente a correção pela inflação”, diz Caselani.
O mais preocupante é que, em ambos os casos, não foi embutido na taxa um prêmio de risco para o caso de as empresas deixarem de pagar alguma parcela, principalmente levando-se em conta que as duas vivem fortes turbulências.
Na última semana, as agências de classificação de risco Moody’s e Fitch rebaixaram o rating da JBS.
O mercado reagiu à notícia do acordo nesta quarta (31) com um olhar positivo para a JBS, e as ações da empresa fecharam o dia com forte valorização de 9%.
“Não significa que os problemas acabaram, mas como é uma empresa que caiu demais, existe espaço para recuperação, que é o que eu acho que está acontecendo”, diz Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.