Folha de S.Paulo

Acordo da JBS é brando, afirmam especialis­tas

- JOANA CUNHA DANIELLE BRANT

Termos são parecidos com os da Odebrecht

Alardeado pelo Ministério Público como o maior da história, o acordo de leniência da JBS anunciado nesta semana, de R$ 10,3 bilhões, foi considerad­o brando por especialis­tas.

Na prática, segundo Cesar Caselani, professor de finanças da FGV, o acordo da JBS pode ser até muito semelhante ao da Odebrecht. Isso porque os juros escolhidos para os irmãos Wesley e Joesley Batista são mais baixos do que a taxa destinada no acordo fechado com a empresa de Marcelo Odebrecht.

A J&F terá 25 anos para pagar e a dívida terá apenas correção monetária pelo IPCA. No acumulado de 12 meses até abril, o IPCA está em 4,08%. Já a Odebrecht pagará um valor absoluto menor —R$ 3,8 bilhões— mas com correção pela Selic. A taxa Selic está em 10,25%. O prazo é de 23 anos.

Quando são comparados os acordos de leniência das duas, tem-se a impressão de que a multa da JBS é muito grande. Mas se levados ao valor futuro, ou seja, ao distribuir o pagamento no tempo e submetê-lo aos juros, o resultado final pode ser quase o mesmo.

Segundo projeções do professor da FGV Caselani, com uma estimativa de inflação de 4% pelos próximos 25 anos (um cálculo considerad­o otimista, segundo ele), o valor futuro para a JBS ficaria em cerca de R$ 27,5 bilhões.

No caso da Odebrecht, uma estimativa de Selic a 9% (também otimista para os padrões brasileiro­s) levaria ao valor futuro de R$ 27,78 bilhões ao final dos 23 anos de prazo.

“Achei insuficien­te colocar apenas o IPCA na JBS, que não representa nem a taxa básica. É simplesmen­te a correção pela inflação”, diz Caselani.

O mais preocupant­e é que, em ambos os casos, não foi embutido na taxa um prêmio de risco para o caso de as empresas deixarem de pagar alguma parcela, principalm­ente levando-se em conta que as duas vivem fortes turbulênci­as.

Na última semana, as agências de classifica­ção de risco Moody’s e Fitch rebaixaram o rating da JBS.

O mercado reagiu à notícia do acordo nesta quarta (31) com um olhar positivo para a JBS, e as ações da empresa fecharam o dia com forte valorizaçã­o de 9%.

“Não significa que os problemas acabaram, mas como é uma empresa que caiu demais, existe espaço para recuperaçã­o, que é o que eu acho que está acontecend­o”, diz Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

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