Lafer apoia defesa de Temer pelo Itamaraty
Ex-chanceler comentou documento do Planalto que criticou política externa
Ministro das Relações Exteriores por duas vezes, Celso Lafer considera “razoável” que a diplomacia brasileira sob Michel Temer (PMDB) tenha buscado legitimar o governo do peemedebista na esteira do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), ocorrido em 2016.
Lafer, 75, comentou, a pedido da Folha, o documento “Brasil, um país em busca de uma grande estratégia”, publicado pela Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência.
O texto provocou polêmica entre diplomatas por apontar o que chamou de fracasso da política externa. O governo ressalta que as opiniões no texto são dos autores.
A avaliação sobre Temer está no texto, que considera a política externa atual uma “agenda pontual” —o que foi chamado de “bobagem” pelo chanceler Aloysio Nunes Ferreira, tucano como Lafer.
“O documento é muito vago. Política externa é sobre necessidades internas e possibilidade externas. Não fica claro o que os autores consideram necessidade, além de prestígio.”, diz Lafer.
O ex-ministro (1992 e 20012002) concorda com algumas das críticas do texto, como a prioridade dada à busca por uma cadeira no Conselho de Segurança nos anos Lula.
Sobre relações comerciais, Lafer defende a “aposta que fizemos” na Organização Mundial do Comércio, mas afirma que foi um “erro de avaliação” posterior “seguir nessa ênfase quando ficou claro que não daria certo” — outro ponto do documento.
Já a crítica à atuação de diplomatas, apontada como defensiva, no texto é vista como “injusta”. “O Itamaraty permanece como uma burocracia de grande qualidade.”
Defendeu maior debate antes da divulgação do texto. “O desejável seria uma articulação interna. Senão o diálogo vira um monólogo”, afirma.