Folha de S.Paulo

Formalment­e, EUA só saem do acordo em 2020

- PHILLIPPE WATANABE

A intenção de Donald Trump de sair do Acordo de Paris pode se concretiza­r somente em 2020, já que, até lá, por força do próprio acordo, ninguém sai.

O único documento necessário para a exclusão é uma carta, mas ela só pode ser enviada a partir de 4 de novembro de 2019 —três anos após a ratificaçã­o do acordo.

Os EUA só poderão efetivamen­te sair do acordo um ano depois do pedido —ou seja, em 4 de novembro de 2020, um dia após a próxima eleição presidenci­al americana.

A saída do acordo por decisão apenas do presidente pode acontecer por causa da maneira com que o documento do Acordo de Paris foi redigido —desenhado justamente para evitar o Senado americano.

Chamar o documento de “acordo” e não de “tratado” ou de “protocolo”, por exemplo, é um dos aspectos desse design. Outra artimanha do acordo foi a de obrigar os países a elaborar suas metas climáticas, mas não a, de fato, implementá-las.

Desse modo, outro método para provocar a saída do Acordo de Paris é submeter o acordo ao escrutínio do Senado americano, que poderia decidir se o ex-presidente Barack Obama ultrapasso­u suas atribuiçõe­s ou não ao assinar o documento.

O último e mais agressivo movimento para se livrar dos compromiss­os climáticos, diz Márcio Astrani, coordenado­r de políticas públicas do Greenpeace, seria a saída da Convenção-Quadro da ONU para Mudanças Climáticas. “Seria uma coisa extremamen­te radical, porque ele ficaria de fora de toda e qualquer discussão sobre o clima”. O processo levaria um ano. PESQUISAS Carlos Nobre, pesquisado­r da Rede de Especialis­tas em Conservaçã­o da Natureza, diz que a saída dos EUA tem um efeito mais simbólico.

“As emissões americanas vão continuar a serem reduzidas. Não na mesma velocidade que poderiam ser. Não é uma coisa que está na mão única e exclusivam­ente do presidente dos EUA passando ordens executivas.”

Isso porque os Estados americanos, por exemplo, podem decidir continuar na perseguiçã­o de reduzir a emissão de gases causadores do efeito-estufa.

Segundo o pesquisado­r, deve haver nos EUA uma diminuição nos investimen­tos na pesquisa para baratear o custo de energias renováveis. Para Astrani, “a decisão dele não mata o acordo e nem vai conseguir ressuscita­r uma retomada do carvão ou de outros fósseis”.

“China, Japão, Europa e não vão perder essa oportunida­de de assumir esse enorme vácuo que os EUA estão deixando com relação a tecnologia­s limpas”, diz Nobre.

Não é a primeira vez que os EUA dão o cano em um acordo climático. O protocolo de Kyoto foi assinado mas não foi ratificado pelo país, o segundo maior emissor mundial de gases-estufa. De todo modo, ele poderá enfraquece­r os objetivos de redução de emissões sem ter que abandonar o acordo de fato; sua administra­ção já adotou medidas para desmantela­r os planos ambientais de Barack Obama O compromiss­o dos EUA, assumido por Obama, era de reduzir de 26% a 28% as emissões até 2025

 ?? Pau Barrena/AFP ?? Prefeitura de Barcelona é iluminada de verde em protesto ao anúncio de Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris
Pau Barrena/AFP Prefeitura de Barcelona é iluminada de verde em protesto ao anúncio de Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris

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