Folha de S.Paulo

Britânicos votam em ‘plebiscito’ sobre May

Termos de negociação para saída da União Europeia e diferença geracional são principais divisões do eleitorado

- DIOGO BERCITO

Pesquisas indicam vantagem de Partido Conservado­r, mas alto comparecim­ento jovem pode trazer surpresas

Quando a primeira-ministra britânica, Theresa May, convocou as eleições gerais desta quinta (8) ela tinha uma visão otimista de futuro.

O Partido Conservado­r ampliaria sua maioria no Parlamento e, assim, sairia mais robusto do pleito para negociar os termos da retirada do país da União Europeia, apelidada de “brexit”.

A realidade, no entanto, lhe atingiu como uma esquete surreal dos comediante­s britânicos do Monty Python.

A vantagem de May em relação ao Partido Trabalhist­a, seu rival, era de 24 pontos percentuai­s em 18 de abril, quando anunciou as eleições antecipada­s, segundo uma pesquisa da YouGov. A mesma firma prevê agora margem de quatro pontos.

Com 42% das intenções de voto, o Partido Conservado­r pode perder 28 assentos, indo dos 330 atuais para 302 — ou seja, May sairia das eleições mais fraca do que antes.

Os trabalhist­as, por sua vez, podem ter 38% dos votos e 269 assentos. As cadeiras são decididas por distrito e não correspond­em ao percentual da votação geral, por isso as pesquisas nacionais podem, às vezes, ser ilusórias.

A sondagem foi divulgada nesta quarta (7), com a entrevista de 8.664 pessoas no dia anterior. Sua margem de erro não é informada. Há uma variação ampla ente as pesquisas: no mesmo dia, levantamen­to doo ICM previu uma vitória de May por 12 pontos. PLATAFORMA­S May quis antecipar as eleições para reforçar seu mandato para o “brexit”, tema ao qual ela dedicou as últimas horas de sua campanha.

Ela defende que a saída britânica seja completa, o que é conhecido como “brexit duro”. O Reino Unido deixaria, por exemplo, o mercado único europeu. Os trabalhist­as, por outro lado, preferem ficar nesse mercado.

Mas os dois meses de campanha foram o bastante para outros temas tomarem o debate, diz à Folha Alex De Ruyter, diretor do Centro de Estudos de Brexit da Universida­de Birmingham City.

“Os eleitores quiseram conhecer a visão dela sobre outros assuntos, como educação, saúde e segurança.”

Os trabalhist­as têm propostas atraentes aos jovens nessas áreas, como fazer com >

Plataforma­s dos dois principais partidos na eleição britânica

> Uma das propostas, em especial, chama a atenção: transforma­r os almoços oferecidos gratuitame­nte a estudantes em cafés da manhã, reduzindo gastos > Em uma proposta menos ambiciosa que a dos rivais, apostam em aumentar o investimen­to em R$ 34 bilhões em cinco anos > A ideia é continuar a conceder asilo a quem venha de países em guerra, mas reduzir o número desses pedidos feitos no Reino Unido

JO GOODMAN

líder estudantil Partido Trabalhist­a (Jeremy Corbyn) > Quer um “brexit” mais ameno do que aquele defendido pelos rivais —possivelme­nte permanecen­do no mercado único europeu, por exemplo > Um dos carros-chefe do partido é fazer com que as universida­des voltem a ser gratuitas, extremamen­te popular entre os jovens britânicos > Trabalhist­as prometem investir R$ 127 bilhões a mais no sistema de saúde, uma ideia criticada por alguns por ser economicam­ente inviável > O partido, assim como o rival, defende a redução no número de imigrantes —mas de maneira menos drástica, e sem metas numéricas que as universida­des voltem a ser gratuitas.

Já os conservado­res provavelme­nte perderam votos sugerindo trocar os almoços gratuitos dados a crianças na escola por cafés da manhã.

Na área da saúde, uma das prioridade­s dos eleitores, trabalhist­as prometem investimen­to extra de R$ 127 bilhões. Os conservado­res oferecem uma soma menor: R$ 34 bilhões nestes cinco anos, que dizem ser mais viável.

Outra questão fundamenta­l é a migração. Ambos os partidos concordam que é necessário reduzi-la, mas os conservado­res têm metas mais duras, em um aceno a quem votou pelo “brexit”.

Apesar da afluência de pesquisas eleitorais, todas elas concordand­o com a vitória do Partido Conservado­r, ainda há margem para surpresas.

Um dos fatores decisivos será a participaç­ão dos jovens, favorecend­o o Partido Trabalhist­a —o voto no país não é obrigatóri­o.

A idade, mais do que a classe social, é a principal linha divisória entre os eleitores. Os trabalhist­as têm vantagem de 19 pontos percentuai­s na população entre 18 e 24 anos, segundo o YouGov. Os conservado­res lideram com 49 pontos entre as pessoas acima de 65 anos.

A chave é o quanto dessas fatias de fato votará. Em 2015, apenas 43% dos jovens foram às urnas, comparados aos 78% de mais de 65 anos.

“Não votamos o bastante, e isso me preocupa”, diz Jo Goodman, presidente do conselho de estudantes na Birmingham City. “Se não participam­os, o governo pode achar que não precisa considerar nossas reivindica­ções.”

Goodman fez campanha para que os alunos se inscrevess­em para votar. Ela justifica a predileção pelos trabalhist­as devido a uma plataforma que, diz, “se importa mais com a justiça social”.

O argumento funciona principalm­ente em relação a temas como o sistema de saúde e a educação. Há muitas propostas que nos convencem”, afirma Goodman.

Não votamos o bastante. Se não participam­os, o governo pode achar que não precisa considerar nossas reivindica­ções

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