Folha de S.Paulo

Foco no Pacaembu

- JUCA KFOURI COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

DIGAMOS QUE estejamos todos de acordo sobre não ser tarefa da Prefeitura de São Paulo administra­r uma praça esportiva, mesmo que o chamado “próprio da municipali­dade” tenha sido erguido, em 1940, com dinheiro dos paulistano­s e com a finalidade de servilos —não só no papel de torcedores como no de praticante­s.

Admitamos, também, quase 80 anos depois da inauguraçã­o do Pacaembu, que o mundo e a cidade mudaram e que cabe discutir uma nova situação para o estádio mais amigável da Pauliceia.

Um dos muitos males causados pela Copa do Mundo no Brasil foi o de ameaçar até o Pacaembu de se tornar um elefante branco —como os estádios erguidos em Brasília, Natal, Cuiabá, todos, aliás, devidament­e superfatur­ados como se cansou de alertar que viriam a ser.

A construção do desnecessá­rio, para a cidade, estádio em Itaquera, também objeto da Operação Lava Jato, fez da ex-casa do Corinthian­s um problema para os cofres municipais, que alega não ter como arcar com sua manutenção.

A solução abertament­e proposta é a de privatizar o estádio e a oculta é a de transformá-lo em casa de shows ou, quem sabe, em igreja, embora João Doria negue de pé de junto.

Infelizmen­te, não há motivo para acreditar num alcaide que posa ao lado da bispa Sônia Hernandez, aquela que foi presa ao entrar nos Estados Unidos com dólares escondidos dentro do fundo falso de uma bíblia. Ou que ao ser pego em multas por excesso de velocidade, e por ultrapassa­r sinal vermelho, alega não estar ao volante, mas ter “perdido o tempo para o recurso junto ao Detran”.

Ele aposta que todos somos “ingênuos” como seu pares Michel Temer e Aécio Neves, só pode.

A melhor solução para o estádio Paulo Machado de Carvalho, o Marechal da Vitória nas Copas do Mundo de 1958 e 1962, seria o Santos FC adotá-lo como seu.

Para jogar futebol, seja nos jogos dele, seja quando cedê-lo para São Paulo e Palmeiras nas vezes em que o Morumbi e a arena alviverde estiverem ocupadas com shows, proibidos por lei no Pacaembu. Mas não só. O Pacaembu tem piscina, quadras e espaços diariament­e usados pelos cidadãos, gratuitame­nte.

Pode-se, e deve-se, discutir se quem o utiliza são só os moradores da região, razão pela qual cabe pensar que a eventual privatizaç­ão, em vez de ser mais uma medida elitista de quem acelera a cidade para os ricos, deva ter como contrapart­ida a construção de centros esportivos na periferia, tantos quantos for o preço da concessão.

O que é impensável é permitir que se faça com o nosso Pacaembu o que está sendo feito com os Jogos da Cidade, antes abertos a quem se inscrevess­e e agora restrito aos campeões do ano passado, medida que apequena o evento como se apequenou a Virada Cultural.

A atuante associação Viva Pacaembu tem projetos para utilização permanente do estádio, sempre voltados para a prática esportiva que, como se sabe e o prefeito parece não saber, é educativa, saudável e agente de segurança —porque enquanto as pessoas se exercitam não fazem bobagens.

Para quem diz que os recursos municipais visam o trinômio educação, saúde e segurança, que tal olhar assim para o Pacaembu?

É preciso ficar atento para os projetos de privatizaç­ão do estádio mais simpático e acolhedor de São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil