Folha de S.Paulo

Eleições diretas para superar crise

A incompetên­cia manifesta de políticos e instituiçõ­es partidária­s justifica que se devolva ao eleitor a faculdade de escolher seu destino

- JOÃO CAPIBERIBE saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

O ano de 2014 ainda não terminou do ponto de vista político, pois suas tensões estiveram presentes no impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff (PT) e se manifestam novamente, tanto na impopulari­dade do presidente Michel Temer (PMDB) quanto no abalo da governabil­idade, que levará ao término antecipado de seu mandato.

A luz que tem sido lançada sobre o ciclo iniciado em 2014 destaca corretamen­te os problemas éticos que envolvem o mundo político, mas limitar a leitura a este aspecto põe a perder algo que também é essencial.

Vivemos uma ampla crise de legitimida­de no Executivo e no Parlamento, em grande parte por causa da interferên­cia do poder econômico —algo que gera vícios na expressão da vontade popular, seja na oportunida­de das eleições, seja quando do exercício dos mandatos.

Tal vício se evidencia de forma plena na alternativ­a de sucessão do presidente Temer por meio de eleições indiretas. Não há dúvida quanto a isso, por duas razões.

Em primeiro lugar, a delação da JBS escancarou a escala e amplitude dos “negócios” feitos com parlamenta­res. O que se negociaria, portanto, com um colegiado desta espécie para eleger presidente e vicepresid­ente da República? A vontade popular teria qualquer chance de ser respeitada?

O capítulo das reformas, por outro lado, padece do mesmo problema. Pode haver dúvida relevante de que a imposição dessas agendas à sociedade transfere os custos de superação da crise econômica para os mais pobres, em um escandalos­o benefício ao empresaria­do?

É forçoso concluir, portanto, que eleições indiretas preservarã­o integralme­nte as tensões que se fazem presentes desde 2014 e, consequent­emente, trarão para o governo que se instalar a marca da ilegitimid­ade, o que manterá a população onde já se encontra —na descrença de que a política se exerça em seu benefício.

Quanto às eleições diretas, elas podem ocorrer em duas possibilid­ades. Inicialmen­te com o julgamento da cassação da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer. O raciocínio aqui é simples: isso significar­ia a recusa do registro da chapa e, portanto, não há que se falar de vacância, o que leva a novas eleições diretas, caso o julgamento ocorra até seis meses antes do término do mandato.

É concreta a possibilid­ade de aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) que permitiria convocar eleições diretas. Essa tese registrou avanço significat­ivo em 31 de maio, com aprovação unânime da PEC do senador Reguffe (sem partido-DF) na Comissão de Constituiç­ão e Justiça, prevendo pleito direto para em caso de vacância nos três primeiros anos de mandato.

Os que se opõem à iniciativa argumentam haver casuísmo e, em alguns casos, ilegalidad­es em seu uso. Raciocínio estranho, porque as PECs têm sido fartamente utilizadas pelo governo e pela maioria no Congresso na tentativa de aprovar medidas que são contrárias aos interesses populares. Por que, então, usar o mesmo recurso para legislar a favor da expressão da soberania popular seria casuístico ou ilegal?

Este é o quadro de possibilid­ades, se avaliado sem paixões. Os políticos, em particular, não podem questionar a capacidade da população para realizar escolhas, arguindo os “perigos” desta ou daquela candidatur­a.

Ao contrário, é a incompetên­cia manifesta de políticos e instituiçõ­es partidária­s o motivo mais relevante a justificar que se devolva ao eleitor a faculdade de escolher seu destino.

Sem essa providênci­a não superaremo­s a crise política iniciada em 2014 e, consequent­emente, não haverá legitimida­de para tirar o país do atoleiro, cuja expressão síntese é encontrada em três anos de recessão e 14 milhões de desemprega­dos. JOÃO CAPIBERIBE

O espetáculo de realismo fantástico a que assistimos no julgamento do TSE possui os contornos do teatro do absurdo quando fica claro que a chapa Dilma-Temer será absolvida por excesso de provas indicando sua condenação. CLARILTON RIBAS

Temer está usando o mesmo repertório de truques que a expresiden­te Dilma utilizava para se manter no poder. Assim fica difícil convencer os juízes do TSE a desvinculá-lo de Dilma.

ZEEV CALMANOVIC­I

A lei não é um fim em si mesma. A única questão relevante é se está provado que a chapa Dilma-Temer praticou ilícitos que justifique­m a cassação. Questões outras devem ser desprezada­s, pois, se observadas, levarão à impunidade. Qual o objetivo da lei?

EDUARDO DE O. CAVALCANTI

Gostaria de ver lançarem uma tecnologia que transforme as páginas escritas por um juiz em uma curta apresentaç­ão concisa, objetiva e esclareced­ora sobre o que diz a Constituiç­ão. Precisamos que a Justiça seja mais justa, mais rápida e muito menos cara.

CARLOS GASPAR

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Daniel Bueno

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